quarta-feira, outubro 22, 2008

Protesto de índios contra Uribe deixa três mortos na Colômbia

Protesto de índios contra Uribe deixa 3 mortos na Colômbia

Presidente acusa movimento, que cobra terras, de ligação com as Farc e de fazer campanha contra o TLC com os EUA

ONG Human Rights Watch acusa Bogotá de atrapalhar as investigações sobre paramilitares; governo diz que informe é tendencioso


DA REDAÇÃO

A Onic (Organização Nacional de Indígenas da Colômbia) prometeu ontem seguir com ações de protestos em vários pontos da Colômbia até que lideranças da entidade sejam recebidas pelo presidente Álvaro Uribe. Confrontos entre manifestantes e forças de segurança já deixaram três mortos em oito dias de mobilização. Um policial perdeu as mãos pela explosão de uma bomba caseira.
Não há dados completos sobre as vítimas indígenas, todas reportadas pela Onic. Duas das mortes aconteceram no departamento de Cauca (sudoeste), onde os indígenas bloqueavam vários pontos da estrada Panamericana, que liga a Colômbia ao Equador. Policiais liberaram a via anteontem.
A terceira vítima é uma criança que morreu asfixiada por gás lacrimogêneo em um confronto nas cercanias da cidade de Pueblo Rico, no departamento de Risaralda (centro-oeste). Os feridos dos dois lados são quase 200.
Os indígenas colombianos protestam em 16 dos 32 departamentos, em especial no oeste, em repúdio a assassinatos de lideranças -foram 66 só neste ano- e para cobrar compromissos de compras de terras.
Anteontem, o presidente disse ter cumprido mais de dois terços das entregas de terras e atribuiu a mobilização a uma tentativa de barrar o TLC (Tratado de Livre Comércio) com os EUA, parado no Congresso americano. Acusou o movimento de embutir "terroristas", referência às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), causar violência e depois "denunciar diante da comunidade internacional".
Segundo a revista colombiana "Semana", diplomatas de Espanha, EUA, Canadá e Suécia se reuniram com representantes da ONU na terça-feira para avaliar se Bogotá abusava da força contra os protestos.
São 102 os povos indígenas na Colômbia, 18 sob ameaça de extinção. Os indígenas são 2% da população, e 12% dos deslocados internos, diz a ONU.

Human Rights Watch
Ontem, a ONG Human Rights Watch lançou relatório de 148 páginas no qual acusa o governo Uribe de prejudicar as investigações da máfia paramilitar e seus cúmplices, lançando mão, em especial, de reiterados ataques à Suprema Corte de Justiça e se opondo a reformas do Legislativo para expurgar os políticos ligados aos "paras".
A entidade criticou a extradição de chefes "paras" aos EUA e pediu à Corte Penal Internacional que monitore as investigações. O documento foi assinado pelo chileno José Miguel Vivanco, o mesmo que foi expulso da Venezuela em setembro após lançar relatório crítico ao governo Hugo Chávez. Bogotá disse que o informe é "tendencioso" e contém inverdades.

Com agências internacionais

Texto da Folha de São Paulo, de 17 de outubro de 2008.

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