A aventura de Uribe
O PRESIDENTE da Colômbia, Álvaro Uribe, vem enfrentando dificuldades político-jurídicas. Seu prestígio, entretanto, segue em alta. Sobretudo pelo sucesso no combate à violência, ele conta com taxas de aprovação da ordem de 80%, as maiores da América Latina. É justamente a mistura de tibieza institucional com aclamação de lideranças que preocupa.
Uribe já vinha enfrentando dificuldades no Legislativo. Cerca de 60 congressistas de partidos situacionistas são investigados por envolvimento com os "paras", as milícias de extrema direita cujas atividades ilícitas incluem chacinas e narcotráfico. Três dezenas de políticos estão presos, incluindo um primo e estreito colaborador de Uribe.
Mais recentemente, o presidente viu-se envolvido em denúncias de compra de votos para aprovar a emenda constitucional que permitiu sua reeleição, em 2006. A ex-senadora Yidis Medina acaba de ser condenada pela Suprema Corte a quatro anos de prisão domiciliar depois que admitiu ter recebido promessa de regalias do governo em troca do seu voto na comissão que aprovou o mecanismo da reeleição.
O caso agora foi remetido para o Tribunal Constitucional, que deverá decidir sobre a validade da emenda e eventualmente até da eleição de 2006 -embora sua anulação seja muito improvável.
Na tentativa de abafar o escândalo, o governo lança a idéia de convocar um referendo que autorize a repetição do pleito presidencial de 2006. Seria uma forma, alegam os situacionistas, de resgatar a legitimidade.
A lógica da proposta é precária. Ninguém questiona a vitória de Uribe; o que se contesta é a legalidade de sua candidatura.
Parece temerário levar tal decisão para as ruas, especialmente num contexto em que Executivo e Judiciário travam uma queda-de-braço e o Legislativo atravessa crise de credibilidade sem precedentes. A medida soa ainda mais perigosa quando se sabe que Uribe flerta já há algum tempo com a idéia democraticida de um terceiro mandato.
Editorial da Folha de São Paulo, de 2 de julho de 2008.
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