sexta-feira, junho 13, 2008

Uribe imita Chávez

Uribe imita Chávez

O MAIOR desafeto do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, na porção sul do continente é sem dúvida nenhuma seu homólogo venezuelano, Hugo Chávez. O antagonismo, entretanto, não o impede de agir exatamente como o rival quando se trata de aferrar-se ao poder.
Chávez, é verdade, teve seu projeto de perpetuação presidencial barrado nas urnas, com a rejeição da Carta que lhe garantiria reeleições ilimitadas. Agora é Uribe quem flerta com essa idéia de claro viés democraticida. Ele já não descarta modificar a Constituição para que possa disputar o terceiro mandato.
Deve-se reconhecer que o colombiano, ao contrário do venezuelano, tem pelo menos uma realização que transcende ao populismo a apresentar: sua política de segurança é um sucesso. Não apenas logrou reduzir substancialmente a violência que assolava os grandes centros urbanos como ainda obteve um impressionante avanço militar sobre as Farc, a guerrilha que há mais de 40 anos inferniza a vida da população.
Em 2002, o grupo -que migrou do golpismo marxista para o narcotráfico e a indústria dos seqüestros- controlava 40% do território colombiano. Hoje seus membros refugiam-se nos grotões do país. Não é por outro motivo que Uribe é o presidente mais popular das Américas, com 84% de aprovação.
No front político, entretanto, sua gestão é vulnerável. Cerca de 60 congressistas de partidos situacionistas são investigados por envolvimento com os "paras", as milícias de extrema direita cujas atividades ilícitas incluem chacinas e narcotráfico. Três dezenas de políticos estão presos, incluindo um primo e colaborador de Uribe. Para piorar, o presidente é agora acusado de ter comprado votos para aprovar a emenda constitucional que lhe possibilitou o segundo mandato.
Uribe pode ver-se tentado a recorrer à cartada plebiscitária. Certa vez, ele disse que apenas uma "hecatombe" poderia levá-lo a postular mais uma reeleição. O receio agora é que ele providencie uma.

Editorial da Folha de São Paulo, de 6 de maio de 2008.

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