quarta-feira, setembro 01, 2010

Uma dose de otimismo na veia

UMA DOSE DE OTIMISMO NA VEIA

Saiu nos Estados Unidos um daqueles livros que confundem as controvérsias convencionais e colocam novas ideias, ou novas dúvidas, na cabeça das pessoas. É "O Otimista Racional" ("The Rational Optimist"), de Matt Ridley, um biólogo/ jornalista que já chefiou o escritório da revista "The Economist" em Washington.
Seu recado, parafraseando Joãozinho Trinta, seria o seguinte: intelectual gosta de fim do mundo, quem gosta de progresso é o trabalhador. Flerta-se com o pessimismo durante um esplêndido momento da espécie. Cadê o bug do milênio? E a gripe aviária? E o apocalipse da falta de alimentos? A bomba da superpopulação? O desastre da vez seria a catástrofe ambiental.
Ridley fez um coquetel de Adam Smith ("A Riqueza das Nações") com Charles Darwin ("A Origem das Espécies"), sustentando que o nosso macaco transformou-se no que é sobretudo pela capacidade de trocar coisas e serviços.
Luís 14 tinha 498 criados trabalhando na sua cozinha, mas uma dona de casa parisiense come melhor do que ele. Tomando como referência o ano de 1955, Ridley informa: a renda das pessoas triplicou, a pobreza absoluta caiu de 50% da humanidade para 18%, comem-se 30% mais calorias, a mortalidade infantil foi reduzida em dois terços e um cidadão do Botswana tem hoje a renda de um finlandês em 1955.
Transplantando-se as comparações de Ridley e tomando-se duas estatísticas vitais de Pindorama de hoje, coletadas no banco de dados da ONU, toma-se uma injeção de "otimismo racional". A expectativa de vida do brasileiro de hoje (73,5 anos) está no patamar sueco de 1960, acima do inglês (70,8), americano (70) e do suíço (71,7) da mesma época. A mortalidade infantil (23 crianças mortas para 1.000 nascidas vivas) equivale à de 1960 na Inglaterra (22) e é melhor que a da França e dos Estados Unidos (25) há 50 anos.


Trecho da coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo, de 29 de agosto de 2010.

Marcadores: , , ,