Cresce a tensão social por melhores condições de trabalho nos países emergentes
Cresce a tensão social por melhores condições de trabalho nos países emergentes
Rémi Barroux
Das greves de operários do setor automobilístico na Índia aos conflitos nas minas africanas, dos suicídios de funcionários chineses aos assassinatos de sindicalistas colombianos, as tensões sociais têm se aprofundado nos países emergentes. O aumento das questões relativas ao meio ambiente e à saúde no trabalho e as mobilizações contra as condições precárias de emprego são constantes. É o cenário na América Latina, na Ásia e na África.
Com a crise mundial, as reivindicações frente à degradação das condições de trabalho e de poder de compra se multiplicaram. Na China, explica Raymond Torres, que dirige o Instituto de Pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), “os funcionários reivindicam porque eles se encontram em posição mais forte: a reserva de mão de obra começa a se esgotar e uma nova geração de trabalhadores, que estudou mais, se encontra menos sensível às pressões ideológicas do regime”.
No setor automobilístico, na Ásia ou na América Latina, os conflitos são cada vez mais frequentes. Os setores estratégicos da indústria petrolífera e mineradora estão se reestruturando. A petroleira britânica Shell considera se retirar de 21 países da África, causando a preocupação dos trabalhadores. As vendas e compras de empresas modificam os termos dos contratos de trabalho, tendo por consequência a terceirização de vários funcionários. É um dos principais motivos de conflitos.
Na Índia, o movimento sindical, fragmentado e muito politizado, convocou uma greve geral para o início de setembro, a fim de protestar contra a política governamental de “enfraquecimento da legislação trabalhista”. A reivindicação por um “trabalho decente” se tornou a principal preocupação da OIT e da Confederação Sindical Internacional (CSI) (175 milhões de membros de 311 organizações em 155 países). Esta faz a convocação para um dia mundial de mobilização sobre esse tema, em 7 de outubro.
Exigências ambientais
A conversão dos sindicatos às problemáticas ambientais é recente, mas parece sincera. A crise econômica torna urgente a busca por novas saídas, e o desenvolvimento da economia verde poderia criar centenas de milhares de empregos novos. Mas não é a única razão. “Ainda que a maioria dos conflitos continue centrada nas questões sociais e nos problemas de sobrevivência”, explica o senegalês Mamadou Diallo, diretor da associação na CSI, “sabemos que a degradação do meio ambiente, assim como o avanço do deserto, a erosão dos solos ou a seca dos grandes lagos africanos, modificam o destino das populações”.
As lutas pela preservação dos territórios contra a expansão de grandes companhias mineradoras muitas vezes se juntam às dos sindicatos, a exemplo do Chile e da Guatemala.
Urgência democrática
O respeito aos direitos sindicais e às normas sociais constitui uma causa importante de protestos. De fato, são muitos os atos de violência: repressões, prisões, demissões, transferência de sindicalistas... O Relatório Anual das Violações dos Direitos Sindicais, elaborado pela CSI, revela que 101 sindicalistas foram mortos em 2009 (ante 76 no ano anterior), 48 dos quais somente na Colômbia.
As prisões de militantes são frequentes no Irã, no Zimbábue, na Coreia, em Honduras, etc. E são muitas as violações dos direitos sindicais na Rússia, no Egito, na Turquia ou na Coreia do Sul. De forma geral, a escalada da violência antissindical é preocupante, especialmente na América Central, no Panamá e na Guatemala...
Sindicatos às vezes ultrapassados
“O pluralismo sindical é muitas vezes mal aceito por nossos próprios membros, mas hoje isso está mudando, e estamos tentando promover laços com organizações independentes”, admite o britânico Guy Rider, ex-secretário geral da CSI.
Em muitos países, como na Argélia, os conflitos são conduzidos por sindicatos não afiliados à CSI e movimentos surgidos na sociedade civil. Para protestar contra a saída da Shell da África, os trabalhadores se organizaram, de Casablanca (Marrocos) até Uagadugu (Burkina Fasso), na rede social Facebook, criando o grupo “Shell people are not for sale” (“Os funcionários da Shell não estão à venda”. O desafio para o sindicalismo é integrar esses novos parâmetros.
Outra dificuldade: os sindicatos, especialmente na África, devem representar os trabalhadores da economia informal. O desenvolvimento dessa economia paralela, que engloba 1,8 bilhão de pessoas, ou seja, metade da população ativa mundial, aumenta a pobreza, acredita a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e gera conflitos. Dois terços da população ativa poderão se ver sem contrato de trabalho e sem proteção social em 2020.
Tradução: Lana Lim
Notícia do Le Monde, republicado no UOL.
Marcadores: capital e trabalho, direito ao trabalho, direitos do trabalhador, mundo do trabalho, relações de trabalho
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