Quartel de Abrantes
Quartel de Abrantes
RIO DE JANEIRO - Não deixa de ser um avanço, por sinal, relevante. O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, fortemente pressionado pelos últimos acontecimentos no Oriente Médio, voltou atrás em sua posição radical e admitiu pela primeira vez a criação de um Estado palestino.
Na concepção do líder israelense, o novo Estado não teria direito a possuir Forças Armadas nem mesmo um espaço aéreo soberano, como têm os outros Estados. Seria um simulacro de Estado -e, na realidade, continuaria a ser o que é.
Dentro da nascente geopolítica de região, o terrorismo palestino não seria mais terrorismo, mas ações de uma guerra permanente. Mudariam o nome e a classificação, mas a natureza do conflito permaneceria a mesma, com dois povos lutando entre si por um pedaço de chão, um chão sagrado para ambos.
Para os palestinos, um Estado nos moldes preconizados por Netanyahu não resolveria a questão. Mesmo possuindo um novo status reconhecido pela comunidade internacional, os radicais do Hamas não abririam uma trégua na luta por destruir o Estado judeu. Não mais seria um grupo terrorista, mas um Estado terrorista, que só deporia armas aniquilando o inimigo.
Em todo o caso, a simples aceitação de um Estado palestino por parte de Israel coloca a situação num patamar racional. Tal como uma parcela da Autoridade Palestina abandonou a teoria de que deveria jogar todos os judeus no mar, o reconhecimento de Israel por uma Palestina independente facilitaria novas rodadas pela paz na região. Seria o fim possível de um bom começo.
Do contrário, uma solução intermediária como a proposta pelo premiê de Israel faz com que a situação continue por muitos anos ainda como naquele quartel de Abrantes, onde tudo fica como antes.
Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 16 de junho de 2009.
Marcadores: Carlos Heitor Cony, Israel, israelenses x palestinos, Palestina
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