sexta-feira, julho 03, 2009

Quando socialistas se tornam antissemitas

Foi estranho – um bocado estranho – o ataque antissemita em Buenos Aires, no domingo. Judeus foram agredidos quando deixavam a festa dos 61 anos de Israel na embaixada por rapazes com bastões, pedras. Um deles estava armado.

Os agressores eram militantes socialistas com histórico de ataques. Vestiam Che Guevara nas camisas. Tinham bandeiras de agrupações nanicas como a Frente de Acción Revolucionaria e a Convergencia Socialista.

O antissemitismo jamais foi marca ideológica da esquerda. Marx era judeu. Leon Trotsky – e, como ele, vários dos líderes bolcheviques. Os nazistas jamais se referiam ao ‘judeo-bolchevismo’ para designar o tipo de governo soviético. O Projeto Sionista é socialista – e foi o projeto socialista, transferindo judeus da Europa para a Palestina, comprando-lhes terras e erguendo os kibutzim, fazendas comunitárias, que iniciou a implantação do Estado de Israel. Este movimento é que deu origem ao Partido Trabalhista de David Ben-Gurion. De gente de esquerda se formou o Exército de Israel. Ainda hoje, o mito do israelense que trabalha a terra para erguer o país, Eretz Israel, a Terra de Israel, é um dos mais fortes no imaginário nacional.

Incompetência, paranóia sem limites, perda de noção do razoável e falta de diplomacia transformaram Israel, principalmente nos últimos anos, em um Estado agressor.

Na última década e meia, talvez duas, houve uma inversão. A direita bate no peito para defender Israel. A esquerda faz o contrário. Em parte, é fruto das ações mais recentes do governo de Israel. Também é herança dos tempos da Guerra Fria, quando o maniqueísmo de ambos os flancos ideológicos se alinha pró e contra o lado dos EUA mais por simplismo do que por compreensão. Podem ter suas razões – mas entre criticar as ações de um governo e o racismo ainda há uma diferença.

Há está linha tênue com a qual a extrema esquerda flerta com cada vez mais ousadia. Alguns países, culturalmente, estão mais expostos ao antissemitismo do que outros. O Brasil, menos. A Argentina, mais. O problema, no entanto, não é localizado geograficamente. É uma tendência internacional.

Um militante socialista que ataca um judeu por sua etnia não contradiz apenas seus valores. Ele desconhece sua história. Perdeu noção daquilo pelo que deveria estar lutando. Repete os atos de quem sempre o perseguiu. Não atenta apenas contra sua ideologia: ele a esvazia. A aniquila. E cede o argumento à direita. Próximo passo é algum louco de lá vir com a história de que o nazismo era na verdade socialista.


Texto do weblog do Pedro Dória.

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