segunda-feira, abril 27, 2009

O padre, os vereadores, os moradores de rua e o secretário municipal de segurança

MORADORES DE RUA

Os vereadores, o padre e o garçom da Vila Madalena

"Quando chove, a rua tem suas nuances, mas ainda é possível encontrar muita gente", diz o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da Rua, na frente da Câmara Municipal de SP, na noite de segunda. Os vereadores Gabriel Chalita (PSDB), Ítalo Cardoso (PT), Jamil Murad (PC do B) e Juscelino Gadelha (PSDB) aguardam para serem guiados pelo sacerdote em uma caminhada pelo centro da cidade, mas alguns deles pensam em desistir, por causa da chuva.

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O padre "desafiou" os parlamentares a conversarem com os moradores de rua depois que, em uma sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, negou que a Guarda Civil Metropolitana utilize força bruta e jatos d'água para expulsá-los das marquises onde dormem.
Guarda-chuva na mão, a comitiva de vereadores parte às 20h10. Jamil Murad dispensa o acessório. "Comunista não pega gripe", brinca Ítalo Cardoso.

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A apenas duas quadras da Câmara, um homem dorme na porta de uma loja, com um cobertor e um exemplar da "Folha Universal" ao lado. "Por que você não vai para um abrigo?", pergunta o vereador Gadelha. A resposta, quase inaudível, se repete com frequência entre os moradores: os albergues funcionam das 22h às 5h e, muitas vezes, são longe do centro.
"Até a gente chegar lá e fazer o cadastro, já tá na hora de ir embora", diz um deles. "Lá a gente não pode sair para procurar emprego, porque não temos vale-transporte", completa outro.
"E a GCM [Guarda Civil Metropolitana]?", pergunta o padre Lancelotti. "Ela põe todo mundo para correr, gritando, chutando ou espirrando água na gente", responde Vantuir, uma das cerca de 50 pessoas que fazem fila em frente ao largo São Francisco, aguardando um carro que distribui sopa. O padre diz que a prefeitura proibiu esse tipo de ação, multando os motoristas e apreendendo os alimentos. "Dizem que essa distribuição tem que ser feita em condições de higiene, em refeitórios dignos, e que fica muita sujeira depois dos sopões."

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O secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, disse à coluna, por meio de sua assessoria, que a pasta "não tem um único registro de queixa" de agressões da GCM contra moradores de rua. "Se tivermos, a apuração será feita com rigor".

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No largo São Francisco, uma assessora de Chalita reconhece um dos moradores, que foi garçom no Galinheiro Grill, da Vila Madalena.
"Você já me atendeu!", diz Carla Dazzi. O garçom, Aderaldo Viana, diz que passou a dormir na rua há 20 dias, quando acabou o dinheiro do seguro-desemprego. Na mochila -a única que sobrou, pois a outra foi roubada enquanto dormia-, ele guarda a camiseta do último emprego. "Não vou ficar aqui. É só um mês até eu me arranjar."
"A lei prevê que uma pessoa que acaba de chegar à rua tem que ser imediatamente colocada em um programa de proteção", diz o padre. "Daqui a um tempo, ela perde os documentos, começa a beber e fica 20 anos aqui".
Chalita pede que o garçom vá até seu gabinete, para que sua equipe tente lhe conseguir uma colocação.

O texto é parte da coluna de Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, de 17 de abril de 2009.

Chama a atenção a atitude do secretário Edsom Ortega: Ele realmente pensa que um morador de rua acredita que alguma coisa será feita se este morador se queixar das atitudes da guarda municipal? A guarda municipal age independente do secretário, ou à revelia dele?


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