quinta-feira, março 12, 2009

Generais inconformados com a Estratégia Nacional de Defesa?

Generais inconformados com a Estratégia Nacional de Defesa?

Na semana passada, em sua edição de 4 de março, o jornal Folha de São Paulo noticiou que o Alto Comando do Exército criticou a Estratégia Nacional de Defesa, plano para nortear o desenvolvimento militar do Brasil, apresentado no final do ano passado pelo Ministro da Defesa, Nelson Jobim, e da Secretaria de Longo Prazo, Mangabeira Unger. Supostamente, segundo a preocupação dos generais, o plano fortalece o Ministério da Defesa, e enfraquece as três Armas (Exército, Marinha e Aeronáutica). Segundo a notícia, o principal porta-voz do inconformismo foi o general Luiz Cesário da Silveira Filho, que classificou o plano de “utópico”, e questionou, ironizando, o orçamento para tal plano.

Notícia sobre este encontro do Alto Comando também foi dada pelo jornal O Estado de São Paulo, e está disponível em seu saite.

O que estas contestações parecem manifestar é um certo receio de perda de poder e prestígio por parte dos militares. Por todo o século XX, os militares foram uma espécie de sombra sobre a sociedade brasileira. Podemos lembrar que eles foram os principais responsáveis pelo golpe que iniciou a república brasileira em 1889. A partir da década de 1920 tivemos os chamados levantes tenentistas: Coluna Prestes, Forte de Copacabana, Insurreição em São Paulo. Em 1930, o Alto Comando do exército depôs o presidente Washington Luís, para diminuir o conflito civil que poderia se alongar caso este resolvesse resistir aos insurretos liderados por Getúlio Vargas. O Alto Comando apoiou o Golpe do Estado Novo, que em 1937 estabeleceu a ditadura de Getúlio Vargas, e o mesmo Alto Comando depôs o mesmo Vargas em 1945. Um “Manifesto dos Coronéis” esteve no âmago da crise que iria desembocar no suicídio de Getúlio em 1954. Em 1955, um golpe do general Lott depôs o presidente Carlos Luz, e garantiu a posse do presidente Juscelino Kubitschek. Em 1961, quando Jânio Quadros renunciou, os ministros das Forças Armadas quiseram impedir a posse do vice, João Goulart. E por fim temos o Golpe de 1964, pelo qual eles se revezaram no comando do país até 1985.

Pois é, depois de tanto ativismo e influência, pode parecer estranho que os militares tenham que acatar um plano de defesa elaborado basicamente por civis. Tanto mais que estou certo que eles acreditem piamente que são as pessoas mais aptas para desenvolver planos similares. Afinal devem existir muitos cursos e treinamentos que as Forças Armadas oferecem aos seus subordinados sobre como defender o país.

Mas eu quero ser otimista e acreditar que nas atuais condições, uma estratégia nacional de defesa deva mesmo ficar a cargo do Ministério da Defesa, e que tal plano deve ser acatado pelos militares. Que certamente podem, até devem, trabalhar no sentido de torná-lo melhor, se possível, ou adequá-lo às condições e necessidades, na medida, em que, como lembrou o general Luiz Cesário, restrições orçamentárias possam aparecer.


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