terça-feira, março 10, 2009

Historiador sem noção?

Historiador sem noção?


Quinta-feira passada, dia 5 de março, o professor Marco Antonio Villa o espaço de opinião do jornal Folha de São Paulo, com um texto chamado “Ditadura à brasileira”. Neste texto ele comenta sobre alguns processos positivos acontecidos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), como o incremento dos cursos de pós-graduação nas universidades públicas, a criação de empresas estatais para sustentar o desenvolvimento econômico do país.

Informa que durante o período houve festivais da canção, havia imprensa independente, inclusive imprensa de oposição, a imprensa alternativa ou nanica. O congresso foi mantido funcionando a maior parte do tempo.

Além disso, afirma o professor, o regime brasileiro fez muito menos vítimas que os regimes similares no Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai).

E informa também que as “bases” para o regime militar vão além da Guerra Fria, podendo iniciar da tradição positivista, em parte professada pelos militares que deram o golpe da república, e seu desprezo pela democracia. Este desprezo continuou em ambos os lados do espectro político na história da país, especialmente nos momentos de crise política.

Com isso, ele afirma que “O regime militar brasileiro não foi uma ditadura de 21 anos. Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 (até o AI-5), com toda a movimentação político-cultural. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições para os governos estaduais em 1982. ”

Assim o professor oferece uma série de argumentos para uma conclusão absurda.

Sabemos que o Congresso foi mantido à custa de cassações de mandatos, e em alguns momentos foi de fato fechado. Sabemos que vez por outra a redação inteira do Pasquim (um dos jornais da imprensa alternativa) era presa. Com o golpe milhares de servidores públicos civis e militares foram demitidos. E logo começou a tortura e os assassinatos do regime.

O texto do professor Villa já recebeu alguns comentários, como um no blog do Luís Nassif, chamado “Intelectual à brasileira”, e também um do jornalista Jânio de Freitas, que se chamou “História à brasileira”.

Como o professor Marco Antonio Villa é professor universitário, de história, não é possível acreditar que ele creia no que ele próprio escreveu. Ele quer dizer que “ditadura” só ocorreu entre 1968 (AI-5 como marco provavelmente) e 1979 (Lei de Anistia)?

Difícil. Fica parecendo mais que ele quer fazer algum agrado à equipe editorial da Folha de São Paulo, com a sua “ditabranda”. Confesso que também nesta hipótese é difícil se acreditar?

O que pretendia o professor Villa?



P.S. O texto do professor Marco Antonio Villa está na página da Folha de São Paulo, de 5 de março passado, apenas para assinantes, mas pode ser encontrado, por exemplo, no Opinião e Notícia.

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3 Comments:

Blogger Carlos Eduardo da Maia said...

Gostei do artigo do Professor Villa que coloquei lá no depósito. Ditadura é ditadura. E no Brasil houve períodos em que a ditadura foi mais branda, como os indicados pelo historiador. A fase mais dura ocorreu a partir de 1968 com o AI 5 e depois houve a anistia em 79 e as eleições gerais. Não se pode dizer, seria um atentado à história, que o Brasil viveu 21 anos de chumbo. Isso não aconteceu. A ditadura no Brasil sempre foi ditadura, mas teve sim períodos brandos se comparados aos nossos irmãos do cone sul. O artigo do Marco Antonio Villa vai além da superficialidade. Ele entra profundo no exame e na análise de diversos aspectos e deixa de lado ( e isso é ótimo) o panfleto da superficialidade ideológica.

5:53 PM  
Blogger José Elesbán said...

O marechal Castelo Branco, o brando, cancelou as eleições presidenciais de 1965.
O marechal Castelo Branco, o brando, extinguiu os partidos da reconstitucionalização de 1946.
Não houve eleições gerais promovidas pelos militares. Eles foram incapazes de arregimentar apoio entre seus próprios partidários, por isso perderam no Colégio Eleitoral inventado por eles mesmos.
Em 1984, Marchezan e Sarney derrubaram a emenda das Diretas Já no Congresso, enquanto o general Newton Cruz colocava Brasília sob estado de sítio.

10:42 PM  
Blogger José Elesbán said...

A ditadura brasileira não foi mais branda porque matou menos gente. As ditaduras matam (e torturam, e exilam) na medida exata em que necessitem mostrar força para se estabelecerem como ditaduras, e aniquilar qualquer oposição.
400 no Brasil, 3000 no Uruguai, 5000 no Chile, 10000 em Cuba, 30000 na Argentina.

10:46 PM  

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