quinta-feira, março 26, 2009

El Salvador é "centro nervoso" da história regional da América Central

País é "centro nervoso" da história regional

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

El Salvador tem sido o "centro nervoso" da América Central desde o século 19. É o menor dos cinco países, mas o mais densamente povoado, com o aproveitamento de toda a área cultivável. O controle da economia por poucas famílias acabou colocando El Salvador sob manta revolucionária. A violência se agravou nos anos 80, com a política de Ronald Reagan de "contenção do comunismo" e a fusão dessa política com interesses oligárquicos.
O que El Salvador representou em tramas sangrentas está no documentário "O Embaixador", de um cineasta norueguês, e nas conclusões da Comissão Verdade formada a partir do acordo de paz negociado pela ONU entre a guerrilheira FMLN e o governo, em 1992.
"O Embaixador" retrata John Negroponte, nomeado em 1981 embaixador em Honduras com a tarefa de organizar "operações paramilitares" contra o governo sandinista da Nicarágua, o que envolveu El Salvador. Antes, Negroponte esteve no Vietnã. Com George W. Bush, foi diretor nacional de Inteligência. O seu trabalho na América Central não se limitou a aumentar a ajuda militar a aliados. Foram também intensificadas as caçadas a subversivos, sinônimo de tortura e matanças.
Negroponte transformou a dupla El Salvador e Honduras em retaguarda dos "contras", mercenários recrutados pela CIA com a missão de derrubar os sandinistas.
Uma referência foi o batalhão 316, unidade secreta abençoada pelo Pentágono e a CIA. Seu criador, o general hondurenho Discua Elvir Luis Alonso, foi colega de turma do major salvadorenho Roberto D'Aubuisson na Escola das Américas, do Comando Sul dos EUA.
O Pentágono falava em treinamento em operações de contrainsurgência e entidades de defesa dos direitos humanos denunciavam o ensino de tortura. D'Aubuisson, já morto, foi o chefe de esquadrões da morte em El Salvador e criador da Aliança Republicana Nacionalista.
Um fato emblemático dessa época é o massacre de camponeses em El Mozote, El Salvador. Em 2005, a OEA (Organização dos Estados Americanos) ensaiou ir mais fundo em investigações que dariam, era a convicção, na constatação de que mulheres e crianças foram assassinadas "por soldados de um batalhão treinado e equipado pelos EUA".
"New York Times" e "Washington Post" publicaram informações a respeito. Negroponte desmentiu.

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 16 de março de 2009. Os destaques são do blogueiro.


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