sábado, dezembro 20, 2008

O discurso de Lula

O discurso de Lula


A Folha traz um conjunto de tentativas de explicação para a popularidade de Lula – crescente, segundo pesquisa Datafolha (clique aqui).

O editorial é curioso:

A popularidade de Lula não apenas parece "descolar-se" da média dos “demais presidentes, como também deixa de se vincular a setores sociais determinados. Perde força, na nova pesquisa, a idéia de que o apoio ao governo estava destinado a concentrar-se nas faixas de menor renda e de baixa escolaridade.

De setembro para cá, subiu nove pontos, atingindo 64%, a aprovação de Lula entre os cidadãos com nível universitário.

(...) Cabe lembrar, por fim, que a imagem do presidente também se "descolou" das indefinições administrativas e dos escândalos à sua volta.

Descola-se, até, das impropriedades memoráveis que pontuam sua passagem pelo cargo. A última, aliás, constitui um pequeno recorde no gênero.

Lula considerou que na crise econômica importa fazer como o médico, diante de um paciente grave. "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha para ele e diz sifu?"”

Sabe por que Lula se descolou das impropriedades, inclusive entre as faixas de maior renda e maior escolaridade? Porque os únicos a darem relevância a esse coloquialismo é a mídia. E, ao super-dimensionarem esse coloquialismo, conseguem sub-dimensionar a crítica, tornando-a irrelevante.

Melhor avaliação fizeram especialistas consultados pelo jornal. Como o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, o Sherlock Holmes da psicanálise (apresente qualquer crime que ele na hora dará um diagnóstico completo sobre o perfil do criminoso, seus antecedentes familiares, relações com pais e filhos, apenas baseado em uma notícia pequena de jornal).

Mas a análise é boa:

“Para o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, a insistência de Lula na intangibilidade da economia brasileira frente à crise faz parte de um mecanismo de negação freqüente quando se enfrenta uma situação de impotência: "O governo vinha afiançando insistentemente uma posição privilegiada do Brasil que não era real", diz ele. "O indivíduo se alheia de vez, ainda mais se vem o aval do presidente da República".

Goldberg insiste que a sociedade brasileira "se nega à maturidade" e que, apesar da situação de pré-crise, a população fará "todos os contornos possíveis" porque "não quer pagar o preço da realidade".
A estratégia do presidente, entretanto, é arriscada: "Lula está jogando com o patrimônio político inigualável que ele conseguiu, está investindo em uma saída global [para a crise].

Apesar de não ser uma expectativa absurda, é um jogo de risco. Se você prepara a sociedade jogando com o tempo a seu favor tem mais chances de uma saída menos traumática".

O historiador Boris Fausto acredita que a grande maioria da população só vai ver o que está acontecendo "quando a crise chegar no bolso", o que é inevitável. "Ele [Lula] transmite boas novas. São palavras reconfortantes que ajudam a aumentar a popularidade de alguém que é um grande comunicador", afirma.

Já o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier acredita que nem mesmo o presidente se deu conta do tamanho da crise. "[A sociedade e Lula] Não se deram conta porque é difícil crer em coisa ruim".

Esse será o grande desafio. Lula já percebeu que a crise é grande, ele náo é bobo. Sabe que, para enfrentá-la, tem que injetar otimismo no país. Mas qual tipo de otimismo? Há o otimismo meio irreal de quem minimiza a crise. E há otimismos como o de Churchil na Segunda Guerra, admitindo sangue, suor e lágrimas e, depois, a vitória.

O tom do discurso presidencial é peça chave no jogo econômico. Tenho para mim que o melhor tom seria o de admitir uma crise grave, ser mais claro e didático na explanação da estratégia adotada, mais explícito sobre os riscos pela frente e esperançoso sobre o pós-crise.

Com isso não criará frustrações pesadas, quando começar o desemprego; e se fortalecerá quando houver a retomada do ciclo de crescimento, podendo atribuir à garra e à crença do brasileiro.

O texto é, mais uma vez, do Projeto BR.

E um pequeno comentário: eu não conheço as posições do Dr. Jacob Goldberg, mas tanto o Dr. Bolívar Lamounier, quanto o historiador Bóris Fausto, são notáveis intelectuais paulistas, notavelmente ligados ao PSDB.


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