terça-feira, novembro 11, 2008

Colômbia: Chefe do exército renuncia e representante da Human Rights Watch compara governo de Uribe ao de Pinochet

Chefe do Exército renuncia por escândalo na Colômbia

General Montoya, próximo a Uribe, era pressionado por execuções sumárias de civis

Oposição pede saída do ministro da Defesa; caso de jovens de Bogotá mortos por militares trouxe à tona prática de forjar baixas


FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ponte entre o Pentágono e as Forças Armadas da Colômbia, o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, renunciou ao cargo ontem pressionado pelo escândalo dos "falsos positivos" -o assassinato de civis inocentes para inflar o número de baixas inimigas obtidas pelos militares.
Montoya, 59, anunciou sua saída horas antes de comparecer a uma comissão do Senado onde, ao lado do ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, prestaria explicações sobre a crise que começou em setembro com a divulgação de 19 casos de "falsos positivos" -jovens do entorno de Bogotá recrutados para morrer.
A Procuradoria Geral da Colômbia investiga mais de mil casos de execuções sumárias de civis por militares. A prática foi descrita como "sistemática" pela alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, no fim de semana e foi apontada em relatórios de ONGs de Bogotá e do exterior.
O presidente Álvaro Uribe aceitou a renúncia e nomeou no posto o general Oscar González, que liderava o comando Caribe Nº 1 (norte). Por conta do escândalo, Uribe já havia afastado 27 oficiais e suboficiais na semana passada, após realizar uma investigação interna. Montoya, que disse não saber sobre a apuração interna, já havia se antecipado ao presidente e dispensado três coronéis dias antes.
O volume de casos de falsas baixas inimigas divulgados na imprensa somado à pressão da oposição para que o Montoya e Santos assumissem a responsabilidade política pela crise aumentaram os rumores de que o general cairia -até para conter os ataques ao ministro, um dos homens-fortes de Uribe. Os relatos, chocantes, falam de recrutamento até de doentes mentais para a prática, numa operação que combinava "limpeza social" e proteção de paramilitares aliados.
"A queda do general era esperada porque eram cada vez mais fortes as críticas de vários setores políticos, principalmente da oposição, e também da sociedade", disse à Folha Alejo Velázquez, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia. "Mas os casos não são novos, de modo que é preciso valorizar a decisão de afastar envolvidos desta vez."

Ponte com EUA
A saída de Montoya ocorre no momento em que Uribe ainda tenta fazer lobby em Washington para aprovar o acordo de livre-comércio bilateral. Os democratas, que tendem a ampliar o domínio que já têm no Congresso, apontam as violações de direitos humanos praticadas por Bogotá como motivo tanto para votar contra o tratado como para reduzir a ajuda militar bilionária ao país.
Montoya é um homem conhecido em Washington. Foi um dos negociadores dos pacotes de ajuda dos EUA. Sob seu comando desde 2006, e com ajuda financeira e tecnológica americana, os militares acossaram as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como nunca. Ele também colheu os louros da "Operação Xeque", que liberou a refém Ingrid Betancourt em julho.
Se a operação foi criticada, depois, por usar símbolo da Cruz Vermelha para enganar os guerrilheiros, o general, que conhece Uribe desde os anos 90, tem sobre si acusações graves. Em setembro, o "Washington Post" publicou trechos de depoimentos de um paramilitar preso que acusava Montoya de agir com grupos ilegais em Medellín no comando de execuções. Líderes de ONGs da região fazem as mesmas acusações, citadas também num relatório da CIA vazado em 2007.

Texto da Folha de São Paulo, de 5 de novembro de 2008.

Atacado, ativista compara Uribe a Pinochet

DA REDAÇÃO

Após ser acusado de ser "cúmplice" das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) pelo presidente Álvaro Uribe, o ativista chileno José Miguel Vivanco, diretor da ONG Human Rights Watch (HRW), comparou o atual governo colombiano ao regime Augusto Pinochet (1973-1990).
"Cometem-se por ano tantas violações de direitos humanos [na Colômbia] como todas as ocorridas durante a ditadura Pinochet no Chile", disse ele, em entrevista a uma rádio de Santiago.
Uribe criticou Vivanco depois da divulgação de um relatório da ONG que acusa Bogotá de atrapalhar investigações sobre paramilitares e políticos.
Vivanco foi expulso da Venezuela há dois meses após divulgar um informe crítico do governo Hugo Chávez.

Outro texto da Folha de São Paulo, de 5 de novembro de 2008.

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