O incrivelmente diminuído Bush
O incrivelmente diminuído Bush
Gabor Steingart
Em Washington
Há pouco consenso se a recente reunião do G8 pode ser considerada um sucesso para o meio ambiente. O que é certo é que o presidente americano George W. Bush teve pouca participação nos esforços para salvar o mundo. Ele não liderou, apenas seguiu -e o super-poder americano nunca pareceu tão pequeno quanto nesta semana.
A decisão do presidente americano de finalmente unir-se à luta global contra a mudança climática certamente deve ser bem recebida. Ainda assim, George W. Bush provavelmente poderia ter se poupado a longa viagem para a reunião de cúpula do G8 no Japão, onde a chanceler alemã Angela Merkel e os outros líderes tiveram que aumentar a pressão para fazê-lo mudar de idéia.
Ele talvez tivesse usado melhor seu tempo fazendo uma caminhada em torno da Casa Branca -sem a companhia de seus especialistas em interpretações duvidosas ou qualquer outros membros estrategistas do exército que passaram seu tempo tentando aliviar o homem mais poderoso do mundo de exercitar qualquer verdadeiro pensar.
Um pequeno passeio pela avenida Pensilvânia teria sido suficiente para dar amplas razões para o presidente agarrar o leme do movimento global com a intenção de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a dependência dos EUA do petróleo.
No pequeno posto de gasolina da rua 28, ele poderia ter observado um atendente tentando acalmar os motoristas irritados. O preço da gasolina dobrou desde o último verão, causando fúria entre motoristas de SUVs e outros carros que consomem muito -em outras palavras, dois terços de todos os motoristas americanos.
Essas pessoas não têm ninguém para repassar o seu custo extra com o combustível. As empresas, por outro lado, podem escapar de arcar com o custo crescente do combustível. Os serviços de entrega de pizza, por exemplo, repassaram os custos extra, motoristas de táxi de Washington implementaram a sobretaxa de US$ 1 para ajudar a cobrir os custos de gasolina, e as mercearias aumentaram os preços de tudo. A inflação agora está em 4%.
Bush também teria aprendido com o atendente do posto de gasolina quem as pessoas estão culpando por essa dependência perigosa de petróleo. Seu presidente, é claro. O texano teve a vida toda uma conexão, tanto política quanto privadamente, com o petróleo.
A próxima parada recomendada neste passeio ao longo do Capitólio seria do outro lado da avenida Pensilvânia, onde membros do Congresso fazem seu trabalho em suas salas refrigeradas. Os administradores confiantes dos Arabian Foreign Wealth Funds foram recentemente convidados aqui, homens cujos bolsos profundos estão transbordando de dinheiro dos postos de gasolina. Só o Abu Dhabi Investment Authority tem quase US$ 900 bilhões (em torno de R$ 1,8 trilhão) em fundos a sua disposição.
Com esse tipo de dinheiro, você pode financiar a guerra do Iraque por dez anos ou comprar todas as empresas de automóveis americanas, a fabricante de aviões Boeing e um dos grandes bancos de investimento de Wall Street. Já há um boato que os fundos soberanos da península árabe, Cazaquistão e Rússia não são automaticamente amigos dos americanos. O Irã, rico em petróleo, também está lucrando com a sede de petróleo dos EUA, o que explica tamanha unanimidade entre os senadores nas recentes audiências no Congresso sobre os preços dos combustíveis.
Estamos "enriquecendo os inimigos dos EUA", disse o senador John McCain, candidato presidencial republicano. O senador Barack Obama, seu oponente democrata, disse que a política energética dos EUA "permite que ditadores de regimes hostis ameacem a comunidade internacional". Afastar-se do petróleo com base na segurança nacional -não é algo que também deveria fazer sentido para o presidente?
Bush também teria sido capaz de visitar o escritório do "Washington Post", não muito distante do Escritório Oval. É ali onde o repórter de economia Steve Pearlstein escreve suas colunas astutas e não ideológicas, que recentemente lhe renderam o prêmio Pulitzer.
Pearlstein teve uma idéia tão simples quanto impopular sobre como o país poderia começar a economizar energia. Devemos aumentar os impostos sobre energia, disse ele. Essa também seria a melhor forma de cortar os lucros das empresas de petróleo. Como ele sabe disso?
"Bem, a teoria econômica geral é uma das minhas fontes", disse ele, a outra é o grito de guerra das empresas de petróleo toda vez que a idéia é debatida. Se Bush fosse seguir o conselho de Pearlstein, pela primeira vez em sua presidência ele poderia se tornar tanto impopular quanto útil. Até agora, ele só teve sucesso em uma dessas características.
Em seu caminho de volta para sua escrivaninha, o novo anúncio da empresa japonesa Sharp poderia chamar a atenção do presidente. A princípio ele talvez esperasse que o anúncio da empresa falasse das máquinas copiadoras, mas, em vez disso, diz que a Sharp é a maior produtora do mundo de células solares. O século 21 é a era dos fotovoltaicos, diz o anúncio. "Mude sua energia. Mude seu planeta."
É um lema que o presidente poderia ter adotado como seu, antes de partir para a reunião de cúpula.
Entretanto, o presidente não quer compreender isso, nem sair para passear. É por isso que, na reunião, os sete líderes menos poderosos tiveram que explicar o mundo ao homem mais poderoso. Eles estimularam o presidente dos EUA a finalmente contemplar um futuro sem petróleo, e o convenceram que a meta de redução de emissões de CO2 até 2050 é possível.
O presidente americano não liderou, ele acompanhou. O único super-poder do mundo raramente pareceu tão pequeno como nesta semana.
Tradução: Deborah Weinberg
Gabor Steingart
Em Washington
Há pouco consenso se a recente reunião do G8 pode ser considerada um sucesso para o meio ambiente. O que é certo é que o presidente americano George W. Bush teve pouca participação nos esforços para salvar o mundo. Ele não liderou, apenas seguiu -e o super-poder americano nunca pareceu tão pequeno quanto nesta semana.
A decisão do presidente americano de finalmente unir-se à luta global contra a mudança climática certamente deve ser bem recebida. Ainda assim, George W. Bush provavelmente poderia ter se poupado a longa viagem para a reunião de cúpula do G8 no Japão, onde a chanceler alemã Angela Merkel e os outros líderes tiveram que aumentar a pressão para fazê-lo mudar de idéia.
Ele talvez tivesse usado melhor seu tempo fazendo uma caminhada em torno da Casa Branca -sem a companhia de seus especialistas em interpretações duvidosas ou qualquer outros membros estrategistas do exército que passaram seu tempo tentando aliviar o homem mais poderoso do mundo de exercitar qualquer verdadeiro pensar.
Um pequeno passeio pela avenida Pensilvânia teria sido suficiente para dar amplas razões para o presidente agarrar o leme do movimento global com a intenção de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a dependência dos EUA do petróleo.
No pequeno posto de gasolina da rua 28, ele poderia ter observado um atendente tentando acalmar os motoristas irritados. O preço da gasolina dobrou desde o último verão, causando fúria entre motoristas de SUVs e outros carros que consomem muito -em outras palavras, dois terços de todos os motoristas americanos.
Essas pessoas não têm ninguém para repassar o seu custo extra com o combustível. As empresas, por outro lado, podem escapar de arcar com o custo crescente do combustível. Os serviços de entrega de pizza, por exemplo, repassaram os custos extra, motoristas de táxi de Washington implementaram a sobretaxa de US$ 1 para ajudar a cobrir os custos de gasolina, e as mercearias aumentaram os preços de tudo. A inflação agora está em 4%.
Bush também teria aprendido com o atendente do posto de gasolina quem as pessoas estão culpando por essa dependência perigosa de petróleo. Seu presidente, é claro. O texano teve a vida toda uma conexão, tanto política quanto privadamente, com o petróleo.
A próxima parada recomendada neste passeio ao longo do Capitólio seria do outro lado da avenida Pensilvânia, onde membros do Congresso fazem seu trabalho em suas salas refrigeradas. Os administradores confiantes dos Arabian Foreign Wealth Funds foram recentemente convidados aqui, homens cujos bolsos profundos estão transbordando de dinheiro dos postos de gasolina. Só o Abu Dhabi Investment Authority tem quase US$ 900 bilhões (em torno de R$ 1,8 trilhão) em fundos a sua disposição.
Com esse tipo de dinheiro, você pode financiar a guerra do Iraque por dez anos ou comprar todas as empresas de automóveis americanas, a fabricante de aviões Boeing e um dos grandes bancos de investimento de Wall Street. Já há um boato que os fundos soberanos da península árabe, Cazaquistão e Rússia não são automaticamente amigos dos americanos. O Irã, rico em petróleo, também está lucrando com a sede de petróleo dos EUA, o que explica tamanha unanimidade entre os senadores nas recentes audiências no Congresso sobre os preços dos combustíveis.
Estamos "enriquecendo os inimigos dos EUA", disse o senador John McCain, candidato presidencial republicano. O senador Barack Obama, seu oponente democrata, disse que a política energética dos EUA "permite que ditadores de regimes hostis ameacem a comunidade internacional". Afastar-se do petróleo com base na segurança nacional -não é algo que também deveria fazer sentido para o presidente?
Bush também teria sido capaz de visitar o escritório do "Washington Post", não muito distante do Escritório Oval. É ali onde o repórter de economia Steve Pearlstein escreve suas colunas astutas e não ideológicas, que recentemente lhe renderam o prêmio Pulitzer.
Pearlstein teve uma idéia tão simples quanto impopular sobre como o país poderia começar a economizar energia. Devemos aumentar os impostos sobre energia, disse ele. Essa também seria a melhor forma de cortar os lucros das empresas de petróleo. Como ele sabe disso?
"Bem, a teoria econômica geral é uma das minhas fontes", disse ele, a outra é o grito de guerra das empresas de petróleo toda vez que a idéia é debatida. Se Bush fosse seguir o conselho de Pearlstein, pela primeira vez em sua presidência ele poderia se tornar tanto impopular quanto útil. Até agora, ele só teve sucesso em uma dessas características.
Em seu caminho de volta para sua escrivaninha, o novo anúncio da empresa japonesa Sharp poderia chamar a atenção do presidente. A princípio ele talvez esperasse que o anúncio da empresa falasse das máquinas copiadoras, mas, em vez disso, diz que a Sharp é a maior produtora do mundo de células solares. O século 21 é a era dos fotovoltaicos, diz o anúncio. "Mude sua energia. Mude seu planeta."
É um lema que o presidente poderia ter adotado como seu, antes de partir para a reunião de cúpula.
Entretanto, o presidente não quer compreender isso, nem sair para passear. É por isso que, na reunião, os sete líderes menos poderosos tiveram que explicar o mundo ao homem mais poderoso. Eles estimularam o presidente dos EUA a finalmente contemplar um futuro sem petróleo, e o convenceram que a meta de redução de emissões de CO2 até 2050 é possível.
O presidente americano não liderou, ele acompanhou. O único super-poder do mundo raramente pareceu tão pequeno como nesta semana.
Tradução: Deborah Weinberg
Texto da Der Spiegel, no UOL.
Marcadores: Estados Unidos, EUA, George W. Bush
1 Comments:
Ótimo texto.
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