Violência policial na Cidade do México
Mexicanos se revoltam contra a violência da polícia
Por Joëlle Stolz
Duas semanas depois de uma desastrosa operação policial que incluiu diversas batidas em locais diferentes da Cidade do México, e que provocou a morte de doze pessoas, na sua maioria, adolescentes, o chefe da polícia da capital e o seu procurador-geral foram obrigados a pedirem demissão. A decisão, tomada em 8 de julho, teve como objetivo de apaziguar uma opinião pública revoltada com os métodos quase sempre brutais empregados pelas forças da ordem.
"Nós precisamos construir um outro tipo de polícia", declarou o chefe do governo da Cidade do México, Marcelo Ebrard, do Partido da Revolução Democrática (PRD, de esquerda). A tragédia que ocorreu em 20 de junho dentro da discoteca New's Divine, freqüentada por jovens das camadas populares, evidenciou não apenas o despreparo dos policiais como também os "abusos sistemáticos, além dos atos de brutalidade e de negligência" que eles perpetraram de maneira criminosa contra adolescentes, "cuja ação mais grave que praticavam naquele momento era tomar cerveja", afirma um relatório da Comissão dos Direitos Humanos da capital, a CDHDF.
Sob o pretexto de controlar o consumo ilegal de álcool e de drogas por parte de menores, a polícia organizou uma operação desproporcional, constata o presidente da comissão, Emilio Alvarez. Uma vez que havia apenas um veículo para embarcar os "suspeitos" - entre os quais, centenas de adolescentes e até mesmo crianças -, os agentes barraram a única saída disponível, esmurrando os jovens para obrigá-los a recuarem para dentro de recinto. Doze pessoas foram mortas por asfixia ou pisoteadas, das quais três policiais e uma jovem de 13 anos.
Treinamento para a prática da tortura
A investigação revelou que, um pouco mais tarde, os agentes embarcaram menores, sem que os pais destes fossem informados, e os levaram até a delegacia onde eles foram fichados como delinqüentes. Insultos e ameaças de morte foram proferidos contra eles. Dez jovens adolescentes foram obrigadas a se despirem e a ficarem completamente nuas, na presença de um oficial, para serem fotografadas. "Estes atos não são um caso isolado. Eles constituem práticas sistemáticas e institucionalizadas que devem ser erradicadas", disse Emilio Alvarez.
Ele denuncia os métodos agressivos e brutais empregados pelos policiais de Cidade do México, governada há mais de dez anos pela esquerda. "Quando assumi à frente da CDHDF [em outubro de 2001], havia 16.000 detentos nas prisões da capital. Atualmente, o seu número é de 36.000, entre os quais há, sobretudo, jovens das classes pobres, encarcerados por roubos de valores inferiores a 3.000 pesos [cerca de R$ 470]", lembrou o defensor dos direitos humanos em entrevista ao diário "Crônica". Com freqüência excessiva, acrescentou Alvarez, os policiais "perdem todo controle dos seus atos e libertam sua raiva cometendo maus-tratos contra os jovens pobres ou os empregados modestos".
Segundo a revista semanal "Proceso", o drama do New's Divine comprova principalmente que é ilusório pretender unificar os corpos de polícia sem antes retirar deles todos os seus maus elementos e reestruturá-los completamente.
Foi assim que a imprensa mexicana descobriu, no final de junho, que a polícia do Estado de Guanajuato (no Centro do país), um baluarte da direita católica, vinha recorrendo desde 1997 aos serviços de antigos militares israelenses com o objetivo de treinar seus homens a praticarem atos de tortura. A exibição de vídeos mostrando policiais sendo forçados a rastejarem em poças do seu próprio vômito, ou ainda a enfiarem a cabeça dentro um balde repleto de excrementos, provocou choque na população.
Na sexta-feira, 11 de julho, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) denunciou oito novos casos de abusos e de torturas cometidos por militares contra civis, durante operações contra o tráfico de drogas.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Por Joëlle Stolz
Duas semanas depois de uma desastrosa operação policial que incluiu diversas batidas em locais diferentes da Cidade do México, e que provocou a morte de doze pessoas, na sua maioria, adolescentes, o chefe da polícia da capital e o seu procurador-geral foram obrigados a pedirem demissão. A decisão, tomada em 8 de julho, teve como objetivo de apaziguar uma opinião pública revoltada com os métodos quase sempre brutais empregados pelas forças da ordem.
"Nós precisamos construir um outro tipo de polícia", declarou o chefe do governo da Cidade do México, Marcelo Ebrard, do Partido da Revolução Democrática (PRD, de esquerda). A tragédia que ocorreu em 20 de junho dentro da discoteca New's Divine, freqüentada por jovens das camadas populares, evidenciou não apenas o despreparo dos policiais como também os "abusos sistemáticos, além dos atos de brutalidade e de negligência" que eles perpetraram de maneira criminosa contra adolescentes, "cuja ação mais grave que praticavam naquele momento era tomar cerveja", afirma um relatório da Comissão dos Direitos Humanos da capital, a CDHDF.
Sob o pretexto de controlar o consumo ilegal de álcool e de drogas por parte de menores, a polícia organizou uma operação desproporcional, constata o presidente da comissão, Emilio Alvarez. Uma vez que havia apenas um veículo para embarcar os "suspeitos" - entre os quais, centenas de adolescentes e até mesmo crianças -, os agentes barraram a única saída disponível, esmurrando os jovens para obrigá-los a recuarem para dentro de recinto. Doze pessoas foram mortas por asfixia ou pisoteadas, das quais três policiais e uma jovem de 13 anos.
Treinamento para a prática da tortura
A investigação revelou que, um pouco mais tarde, os agentes embarcaram menores, sem que os pais destes fossem informados, e os levaram até a delegacia onde eles foram fichados como delinqüentes. Insultos e ameaças de morte foram proferidos contra eles. Dez jovens adolescentes foram obrigadas a se despirem e a ficarem completamente nuas, na presença de um oficial, para serem fotografadas. "Estes atos não são um caso isolado. Eles constituem práticas sistemáticas e institucionalizadas que devem ser erradicadas", disse Emilio Alvarez.
Ele denuncia os métodos agressivos e brutais empregados pelos policiais de Cidade do México, governada há mais de dez anos pela esquerda. "Quando assumi à frente da CDHDF [em outubro de 2001], havia 16.000 detentos nas prisões da capital. Atualmente, o seu número é de 36.000, entre os quais há, sobretudo, jovens das classes pobres, encarcerados por roubos de valores inferiores a 3.000 pesos [cerca de R$ 470]", lembrou o defensor dos direitos humanos em entrevista ao diário "Crônica". Com freqüência excessiva, acrescentou Alvarez, os policiais "perdem todo controle dos seus atos e libertam sua raiva cometendo maus-tratos contra os jovens pobres ou os empregados modestos".
Segundo a revista semanal "Proceso", o drama do New's Divine comprova principalmente que é ilusório pretender unificar os corpos de polícia sem antes retirar deles todos os seus maus elementos e reestruturá-los completamente.
Foi assim que a imprensa mexicana descobriu, no final de junho, que a polícia do Estado de Guanajuato (no Centro do país), um baluarte da direita católica, vinha recorrendo desde 1997 aos serviços de antigos militares israelenses com o objetivo de treinar seus homens a praticarem atos de tortura. A exibição de vídeos mostrando policiais sendo forçados a rastejarem em poças do seu próprio vômito, ou ainda a enfiarem a cabeça dentro um balde repleto de excrementos, provocou choque na população.
Na sexta-feira, 11 de julho, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) denunciou oito novos casos de abusos e de torturas cometidos por militares contra civis, durante operações contra o tráfico de drogas.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Texto do Le Monde, no UOL.
Marcadores: México, violência, violência policial, violência urbana
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