Suécia quer substituir gasolina por biogás (e isto não é uma piada!)
Suécia quer substituir gasolina por biogás
James Kanter
Em Goteborg, Suécia
Vai viajar de carro? Lembre-se de primeiro ir ao banheiro. Esta é uma das dezenas de cidades na Suécia dotadas de instalações para transformar esgoto em uma quantidade de biogás suficiente para abastecer milhares de carros e ônibus.
Os carros movidos a biogás criaram um rebuliço quando foram lançados em grande escala uma década atrás. As emissões que saem do cano de descarga são praticamente destituídas de odor, o combustível é mais barato do que a gasolina e o óleo diesel e a idéia de recuperar energia dos dejetos que descem pelo vaso sanitário atraiu os suecos preocupados com o meio-ambiente.
"Quando a pessoa está no banheiro de manhã e consegue enxergar um aspecto positivo nisto, é fácil ser conquistado pela idéia do biogás - é como uma utopia", declara Andreas Kask, um consultor empresarial que dirige um táxi em Goteborg. "Mas na realidade as coisas não funcionaram tão bem quanto se esperava".
Os motoristas reclamam de que há poucos postos de abastecimento, e que os carros só comportam uma quantidade de gás suficiente para rodar duas ou três horas. Alguns também dizem que os primeiros modelos de automóveis movidos a biogás apresentavam um mau desempenho em ladeiras inclinadas, eram lentos nas manhãs úmidas e possuíam pouco espaço no porta-malas devido aos tanques volumosos.
Os críticos também questionam a sustentabilidade dessa tecnologia, porque alguns dos sistemas utilizam tubulações de gás natural para levar o biogás aos consumidores, misturando desta forma os dois combustíveis.
Há dois anos, a Volvo, que pertence à Ford Motor, anunciou que deixaria de fabricar carros movidos a biogás, e que se concentraria na produção de veículos menos agressivos ao meio ambiente movidos a uma mistura de gasolina e etanol.
"Nós não vendemos uma quantidade suficiente de carros", afirma Maria Bohlin, porta-voz da Volvo, referindo-se ao modelo movido a biogás. "Poderemos pensar em voltar a produzir carros a biogás, mas no momento isto não está nos nossos planos".
Desde que a Volvo decidiu abandonar a tecnologia de biogás, o etanol penetrou bastante no mercado sueco, apesar das críticas de que o álcool contribui para o desmatamento e o aumento dos preços dos alimentos.
Feito com cereal ou cana-de-açúcar, o etanol também é vendido por um preço um pouco inferior ao do biogás, embora os defensores deste último digam que ele apresenta uma eficiência por quilômetro rodado bem maior.
Goran Varmby, funcionário da Business Region Goteborg, uma companhia sem fins lucrativos que promove a indústria e o comércio na região, diz que espera que a Volvo volte a produzir automóveis movidos a biogás.
"Mas existem muitos interesses econômicos de grande dimensão por trás do etanol", afirma Varmy. Ele refere-se aos generosos subsídios que os agricultores e os produtores de biocombustíveis na Europa e nos Estados Unidos recebem para plantar e processar culturas para a produção de biocombustíveis.
Sob o ponto de vista químico, o biogás é idêntico ao gás natural obtido dos combustíveis fósseis, mas a sua produção baseia-se em um processo no qual bactérias alimentam-se de dejetos fecais durante aproximadamente três semanas em uma câmara sem oxigênio. Dois terços de metano e um terço de dióxido de carbono saem como resultado, bem como um resíduo rico em nutrientes que pode ser utilizado para fertilizar o solo ou como material de construção.
Após ser purificado, o metano é bombeado pela rede de gasodutos de Goteborg até estações especializadas de abastecimento, nas quais o gás é pressurizado para ser distribuído aos consumidores. Qualquer veículo dotado de motor e tanque configurados para receber gás natural comprimido pode usar o biogás.
Após cada abastecimento, a quantidade correspondente ao biogás utilizado é injetada na rede de distribuição de gás natural como compensação, afirma Bo Ramberg, diretor-executivo da FordonGas, uma empresa com sede em Goteborg que opera a maior rede de postos de abastecimento de biogás na Escandinávia.
A idéia é que a quantidade de gás utilizada pelos veículos seja compensada pelo gás produzido a partir de resíduos orgânicos.
Ramberg, que já foi um executivo da Volvo, conta que deixou a companhia há cerca de uma década para fundar a FordonGas, ao identificar uma oportunidade para criar a infra-estrutura necessária para o fornecimento de biogás aos motoristas.
"Nós queremos certificar as emissões presentes no ciclo de vida inteiro do biogás, da produção ao uso", afirma Ramberg. "Mas já acreditamos que o biogás seja o melhor combustível para reduzir as emissões - não há discussão quanto a isso".
Metade das ações da empresa pertence à Dong Energy, uma companhia dinamarquesa. Segundo Ramberg, a FordonsGas obtém um pequeno lucro com a atividade e continua investindo nos postos de abastecimento de biogás.
Os defensores do biogás admitem que a decisão da Volvo de deixar de produzir carros movidos a biogás foi um sério golpe desferido contra esta tecnologia.
Mas eles afirmam que a decisão da Mercedes e da Volkswagen no sentido de lançar novos modelos de carros movidos a biogás neste ano na Suécia e os abatimentos de impostos concedidos aos motorista poderão provocar um aumento das vendas destes carros e do combustível.
"O biogás, como combustível de automóveis, também está disponível na Suíça, na França, na Alemanha e na Áustria, mas a Suécia é o maior usuário na Europa", afirma Irmgard Herold, analista da New Energy Finance, em Londres.
Muitas pessoas em Goteborg continuam otimistas em relação ao vínculo que criaram entre dejetos e reservas seguras de energia.
Ola Fredriksson, engenheiro na Gryaab, a estação de tratamento de esgoto em Goteborg, diz que a quantidade média anual de dejetos eliminados por cada pessoa nas descargas do vaso sanitário cria biogás suficiente para que um automóvel rode 120 quilômetros.
"Se o preço do petróleo continuar subindo, e as pessoas estiverem preparadas para pagar mais por energia renovável, isso fará com que a nossa companhia se interesse pela produção de mais biogás", afirma Fredriksson. "Nós contamos com capacidade para isso."
Tradução: UOL
James Kanter
Em Goteborg, Suécia
Vai viajar de carro? Lembre-se de primeiro ir ao banheiro. Esta é uma das dezenas de cidades na Suécia dotadas de instalações para transformar esgoto em uma quantidade de biogás suficiente para abastecer milhares de carros e ônibus.
Os carros movidos a biogás criaram um rebuliço quando foram lançados em grande escala uma década atrás. As emissões que saem do cano de descarga são praticamente destituídas de odor, o combustível é mais barato do que a gasolina e o óleo diesel e a idéia de recuperar energia dos dejetos que descem pelo vaso sanitário atraiu os suecos preocupados com o meio-ambiente.
"Quando a pessoa está no banheiro de manhã e consegue enxergar um aspecto positivo nisto, é fácil ser conquistado pela idéia do biogás - é como uma utopia", declara Andreas Kask, um consultor empresarial que dirige um táxi em Goteborg. "Mas na realidade as coisas não funcionaram tão bem quanto se esperava".
Os motoristas reclamam de que há poucos postos de abastecimento, e que os carros só comportam uma quantidade de gás suficiente para rodar duas ou três horas. Alguns também dizem que os primeiros modelos de automóveis movidos a biogás apresentavam um mau desempenho em ladeiras inclinadas, eram lentos nas manhãs úmidas e possuíam pouco espaço no porta-malas devido aos tanques volumosos.
Os críticos também questionam a sustentabilidade dessa tecnologia, porque alguns dos sistemas utilizam tubulações de gás natural para levar o biogás aos consumidores, misturando desta forma os dois combustíveis.
Há dois anos, a Volvo, que pertence à Ford Motor, anunciou que deixaria de fabricar carros movidos a biogás, e que se concentraria na produção de veículos menos agressivos ao meio ambiente movidos a uma mistura de gasolina e etanol.
"Nós não vendemos uma quantidade suficiente de carros", afirma Maria Bohlin, porta-voz da Volvo, referindo-se ao modelo movido a biogás. "Poderemos pensar em voltar a produzir carros a biogás, mas no momento isto não está nos nossos planos".
Desde que a Volvo decidiu abandonar a tecnologia de biogás, o etanol penetrou bastante no mercado sueco, apesar das críticas de que o álcool contribui para o desmatamento e o aumento dos preços dos alimentos.
Feito com cereal ou cana-de-açúcar, o etanol também é vendido por um preço um pouco inferior ao do biogás, embora os defensores deste último digam que ele apresenta uma eficiência por quilômetro rodado bem maior.
Goran Varmby, funcionário da Business Region Goteborg, uma companhia sem fins lucrativos que promove a indústria e o comércio na região, diz que espera que a Volvo volte a produzir automóveis movidos a biogás.
"Mas existem muitos interesses econômicos de grande dimensão por trás do etanol", afirma Varmy. Ele refere-se aos generosos subsídios que os agricultores e os produtores de biocombustíveis na Europa e nos Estados Unidos recebem para plantar e processar culturas para a produção de biocombustíveis.
Sob o ponto de vista químico, o biogás é idêntico ao gás natural obtido dos combustíveis fósseis, mas a sua produção baseia-se em um processo no qual bactérias alimentam-se de dejetos fecais durante aproximadamente três semanas em uma câmara sem oxigênio. Dois terços de metano e um terço de dióxido de carbono saem como resultado, bem como um resíduo rico em nutrientes que pode ser utilizado para fertilizar o solo ou como material de construção.
Após ser purificado, o metano é bombeado pela rede de gasodutos de Goteborg até estações especializadas de abastecimento, nas quais o gás é pressurizado para ser distribuído aos consumidores. Qualquer veículo dotado de motor e tanque configurados para receber gás natural comprimido pode usar o biogás.
Após cada abastecimento, a quantidade correspondente ao biogás utilizado é injetada na rede de distribuição de gás natural como compensação, afirma Bo Ramberg, diretor-executivo da FordonGas, uma empresa com sede em Goteborg que opera a maior rede de postos de abastecimento de biogás na Escandinávia.
A idéia é que a quantidade de gás utilizada pelos veículos seja compensada pelo gás produzido a partir de resíduos orgânicos.
Ramberg, que já foi um executivo da Volvo, conta que deixou a companhia há cerca de uma década para fundar a FordonGas, ao identificar uma oportunidade para criar a infra-estrutura necessária para o fornecimento de biogás aos motoristas.
"Nós queremos certificar as emissões presentes no ciclo de vida inteiro do biogás, da produção ao uso", afirma Ramberg. "Mas já acreditamos que o biogás seja o melhor combustível para reduzir as emissões - não há discussão quanto a isso".
Metade das ações da empresa pertence à Dong Energy, uma companhia dinamarquesa. Segundo Ramberg, a FordonsGas obtém um pequeno lucro com a atividade e continua investindo nos postos de abastecimento de biogás.
Os defensores do biogás admitem que a decisão da Volvo de deixar de produzir carros movidos a biogás foi um sério golpe desferido contra esta tecnologia.
Mas eles afirmam que a decisão da Mercedes e da Volkswagen no sentido de lançar novos modelos de carros movidos a biogás neste ano na Suécia e os abatimentos de impostos concedidos aos motorista poderão provocar um aumento das vendas destes carros e do combustível.
"O biogás, como combustível de automóveis, também está disponível na Suíça, na França, na Alemanha e na Áustria, mas a Suécia é o maior usuário na Europa", afirma Irmgard Herold, analista da New Energy Finance, em Londres.
Muitas pessoas em Goteborg continuam otimistas em relação ao vínculo que criaram entre dejetos e reservas seguras de energia.
Ola Fredriksson, engenheiro na Gryaab, a estação de tratamento de esgoto em Goteborg, diz que a quantidade média anual de dejetos eliminados por cada pessoa nas descargas do vaso sanitário cria biogás suficiente para que um automóvel rode 120 quilômetros.
"Se o preço do petróleo continuar subindo, e as pessoas estiverem preparadas para pagar mais por energia renovável, isso fará com que a nossa companhia se interesse pela produção de mais biogás", afirma Fredriksson. "Nós contamos com capacidade para isso."
Tradução: UOL
Texto do International Herald Tribune, publicado no UOL.
Marcadores: combustíveis, Suécia
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