quarta-feira, junho 25, 2008

Oposição Incoerente e Encurralada

Incoerente, oposição foi encurralada

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova CPMF ainda pode ser derrubada no Congresso ou na Justiça, mas o governo já pode comemorar a vitória mais importante: como na campanha presidencial de 2006, conseguiu encurralar a oposição em sua própria fragilidade ideológica e programática.
Na falta de plataforma mais consistente, tucanos e democratas tentam se qualificar como defensores do contribuinte contra a escalada da carga tributária -iniciada, aliás, no governo FHC sustentado por ambos. Mas o passado até seria esquecido se os dois partidos estivessem de fato dispostos a assumir o complemento obrigatório da bandeira escolhida: o combate à contínua expansão do gasto público.
Logo após faturarem a extinção da CPMF no final do ano passado, PSDB e DEM embarcaram sem reservas no projeto que elevava em dezenas de bilhões de reais os gastos em saúde. Em parte, agiram rebocados pelos interesses dos parlamentares ligados ao setor; em parte, queriam criar um constrangimento político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que seria obrigado a vetar o texto.
Com a contraproposta lulista de criar a CSS, a oposição foi levada, de um dia para o outro, do ataque à defesa. O máximo que pôde fazer, desde então, foi tentar retardar as votações na Câmara, enquanto era chamada de irresponsável pelos governistas por pretender aumentar gastos sem nomear as fontes de receita, e preferiu nem responder que o projeto era do senador acreano Tião Viana, do PT.
Enquanto criticam genericamente a "gastança" do governo, tucanos e pefelistas não se animam a votar contra nenhuma das principais propostas de aumento de despesas. Em silêncio, ajudaram a aprovar os reajustes do salário mínimo, as obras do PAC e todos os benefícios para o funcionalismo público. Já os petistas defendem a expansão dos gastos em voz alta e com plena convicção.
É a repetição da estratégia vitoriosa na última eleição presidenciável, quando Geraldo Alckmin teve de renegar em público todas as suas idéias para conter a expansão do Estado e de seus custos para a sociedade, enquanto Lula foi mais convincente, como era previsível, prometendo o continuísmo.
Qualquer que seja o destino da CSS, o Planalto já reassumiu o discurso de defesa da saúde e afastou o risco de um veto impopular antes das eleições municipais. Não há urgência nem real necessidade de aprovar o novo tributo -daqui para a frente, o que vier será lucro.

Da Folha de São Paulo, em 12 de junho de 2008.


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