O fim de um ciclo político
Coluna Econômica - 29/04/2008
O Brasil está no fim de um ciclo político. O modelo e as lideranças nascidas da Nova República e da Constituição de 1988 se esgotam com o fim da era Lula. Do bojo do velho MDB nasceu o PSDB e, de certo modo, o PT. Em meados dos anos 80, principalmente depois de Orestes Quércia assumir o comando da legenda, um grupo de políticos, sindicalistas, intelectuais se uniram para lançar as bases de um partido de centro-esquerda.
Nasceram dois: o PSDB e o PT, ambos primos, não irmãos, com algumas diferenças claras. O PSDB nasceu das lideranças cassadas ou que resistiram ao AI-5. O PT nasceu das organizações de base, do sindicalismo do ABC e da militância dos grupos que, nos anos de chumbo, enveredaram pela luta armada.
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O PT cresceu como partido de massa, de mobilização; o PSDB como partido de quadros. À frente deles, dois políticos que, compreensivelmente, colocaram a governabilidade acima de tudo: FHC e Lula.
Digo compreensivelmente porque o modelo político brasileiro produziu um presidencialismo fraco, que depende continuamente do fisiologismo de alianças episódicas, de formas de financiar as campanhas eleitorais e que está permanentemente exposto a golpes brancos. Basta um enfraquecimento qualquer, um escândalo, a repercussão na mídia insuflando a opinião pública e uma CPI ou procedimento similar garantindo a derrubada do governante sem a necessidade de passar pelo voto. Foi assim com Fernando Collor, quase foi assim com FHC pós-99 e com Lula pós-mensalão.
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Essa fragilização da Presidência – fruto da volatilidade das alianças políticas – impediu qualquer ação mais vigorosa para romper com a inércia econômica e lançar as bases para duas iniciativas igualmente relevantes: as tais reformas modernizantes; e o fim do jugo do Banco Central sobre a política econômica.
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Agora, o quadro se reorganizar. Em Minas, o quase ex-tucano Aécio Neves avança em alianças com o petista Fernando Pimentel e o PMBD de Hélio Costa. Em São Paulo, o tucano José Serra conseguiu o apoio do peemedebista Orestes Quércia (já tinha o do presidente do partido Michel Temer) e do comando do DEM.
Em Brasília, Lula continua surfando em índices elevados de aprovação popular – mas tem pela frente o iceberg do câmbio.
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Ainda é cedo para avaliar o resultado do jogo. De concreto se tem diversos movimentos que, em algum lugar do futuro, permitirão a reorganização partidária.
Mas de que maneira? Qual será a cara do PT: Dêda, Dulci, Patrus, os gaúchos, os sindicalistas, o pessoal do Dirceu? E a cara do PSDB? FHC, Virgilio e Tasso? Aécio e os negociadores? Os desenvolvimentistas de Serra?
Os desenvolvimentistas – que se espalham por vários partidos – tem um corpo coerente de idéias. Mas, espalhados, não compõem uma massa crítica capaz de transformar o país. Da mesma maneira, os mercadistas marcam posição no PSDB e no PFL; há muito mais afinidade entre Pedro Malan e Antonio Pallocci do que entre Pallocci e Patrus.
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Por enquanto, Lula mantém o PT unido; FHC, o PSDB. E depois deles: o dilúvio?
Marcadores: Brasil, política, política brasileira
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