sábado, maio 10, 2008

Criminalização de Movimentos Sociais

Leio no saite do jornal Zero Hora, que a Brigada Militar mobilizou mais de 700 homens para cumprir um mandado de busca num acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), na Fazenda São Paulo II, município de São Gabriel, aqui no Rio Grade do Sul. O mandado visava a apreensão de bens supostamente furtados da Fazenda Southall, ocupado pelo Movimento em abril passado.
Não encontraram nada da Fazenda Southall, assim a Brigada se contentou em levar 81 foices, 16 facões, 9 coquetéis molotov, e 15 foguetes (ou seja fogos de artifício), entre mais alguns badulaques como facas, escudos e bodoques. Não obstante tudo isso poder ser usado como arma, a maior parte do "arsenal" é composto de ferramentas de trabalhadores rurais.
O próprio subcomandante da Brigada, o famoso coronel Mendes, foi o solicitante do mandado de busca e apreensão, e informou que a operação foi necessária para "restabelecer a ordem na região". Ou seja, para o coronel da Brigada, a presença do MST é um foco de desordem. Para ser coerente com a sua afirmação, o coronel deveria ter solicitado uma remoção desse povo dali. Assim conseguiria restabelecer totalmente a "ordem na região".
Entre 700 pessoas, a Brigada conseguiu encontrar 3 foragidos da justiça, e prendeu mais 2 pessoas por desacato à autoridade. O jornal da Azenha não indicou os delitos pelo qual os tais foragidos estavam condenados. Posso especular, num país em que ladrões de xampu são condenados à pena de prisão, e que assassinos condenados ficam soltos, que os crimes dos foragidos não seriam de grande monta, ou eles não estariam convivendo com mais de 600 pessoas, em aparente paz e harmonia.
Zero Hora também não informou o que eu pude saber pelo blog do Gilmar da Rosa, que os brigadianos também rasgaram barracos de lona, colocaram pás de terra em comida que estava sendo cozida, e levaram parte dos mantimentos do acampamento.
Depois o coronel Mendes foi cumprimentar os latifundiários da região. que saudaram a ação liderada pelo coronel. "Gostaríamos de ter assistido." afirmou a vice-presidenta do Sindicato Rural de São Gabriel, Roselba Mozzaquato, segundo o Gilmar da Rosa.
Dizem alguns teóricos do marxismo, que num estado burguês (um estado que a burguesia controla), a polícia e as forças armadas são o braço armado dos burgueses, pois a oficialidade destas forças policiais e militares estaria ligada por laços de interesse e mesmo de sangue com esta burguesia. Utilizando a linguajar dos almofadinhas com MBA, como diria o Marcelo Duarte, a ação liderada pelo coronel Mendes, no governo da governadora Yeda Crusius, seria um perfeito "case study", isto é, um perfeito estudo de caso a comprovar a tese marxista.
A polícia militar do Rio Grande do Sul agiu para humilhar membros de um movimento social e fazer prevalecer os interesses de parte da classe latifundiária do estado.
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Foto de Fernando Ramos, no jornal Zero Hora.
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P.S. O mesmo saite da Zero Hora, à noite, dava em manchete de capa que uma comerciária se sentia arrasada por ter sido assaltada e agredida por ladrões na Rua Padre Chagas. Não necessariamente há causa e efeito entre os dois eventos, mas talvez se não houvesse policiais da capital na fronteira para reprimir movimentos sociais, o tal assalto pudesse ter sido evitado.
Abaixo a "capa" do saite de Zero Hora.
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