segunda-feira, abril 02, 2007

Do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim: Onde Está a Burguesia Paulista?

ONDE ESTÁ A BURGUESIA PAULISTA ? EM HOUSTON - II

22/03/2007 09:50 h

Atualizado às 11h40

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 238


Estes são os homens e mulheres mais ricos do Brasil, em 2007, segundo a revista americana Forbes:

Joseph Safra

Jorge Paulo Lemann

Aloysio de Andrade Faria

Antonio Ermirio de Moraes

Moise Safra

Marcel Herrmann Telles

Carlos Alberto Sicupira

Rubens Ometto Silveira Mello

Julio Bozano

Abilio dos Santos Diniz

Dorothéa Steinbruch

Elie Horn (da Cyrela)

Guilherme Peirao Leal (da Natura)

Eliezer Steinbruch (CSN)

Constantino de Oliveira (Gol)

É claro que outros nomes poderiam estar aí – como, por exemplo, nomes da família Setúbal (Itaú), Moreira Salles (Unibanco), outros usineiros de açúcar; e “new money”, como os que se fizeram na privatização de Fernando Henrique Cardoso, como Daniel Dantas e André Lara Rezende.

Nenhum deles impediu que a fantástica coleção de arte construtiva brasileira de Adolpho Leirner fosse vendida a um museu de Houston, no Texas.

Nenhum museu de São Paulo - um deles, por exemplo, dirigido por Milú Villela, do grupo controlador do Banco Itaú - se interessou pela coleção.

(Um dos museus estava fora de cogitação, porque não tinha dinheiro para pagar a conta da luz...)

Não é a primeira vez que São Paulo se vê diante de situação igualmente constrangedora: quer ir ver o “Abapuru”, de Tarsila do Amaral? Dê um pulo ao Malba, em Buenos Aires...

Nos anos 90, um banqueiro argentino arrematou o “Abapuru” numa casa de leilões em Nova York, já que o vendedor brasileiro não conseguiu interessar nenhum milionário brasileiro...

Leirner procurou todos os museus. Ofereceu a coleção a todos eles.

A coleção Leirner, digamos, custava US$ 30 milhões.

US$ 30 milhões? Mixaria.

É o preço de duas coberturas desses prédios horrorosos em que moram os milionários paulistas de estilo (?) “neoclássico francês” – com aquelas “mansardas” no alto - e que, em Nova York, os construtores espertalhões chamam de “Polish Renaissance”...

Ah, isso é culpa do poder público, dirão alguns. Federal, estadual e municipal, que não sabe gastar dinheiro com cultura.

Talvez seja.

Mas, em Nova York, milionários como Rockefeller, Guggenheim, Morgan, Frick, Carnegie e Lehman tiraram dinheiro do bolso para dar à cidade museus e coleções inigualáveis.

E quem sabe o que fez o Sr. Frick, que deixou à cidade a maior coleção de Vermeers fora da Holanda? (*) E o Sr. Lehman? Nada tão relevante quanto financiar uma ala do Metropolitan Museum...

(O Lemman brasileiro – que vendeu a Brahma aos belgas – acaba de doar US$ 1 milhão à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde estudou. Mas, pergunta se ele ganhou um tostão vendendo Brahma em Boston???)

Os milionários daqui não pensam nem em como gostariam de ser lembrados... Porque, provavelmente, pouco se lhes dá o que “os outros” pensam sobre qualquer coisa.

A burguesia de São Paulo destruiu a Avenida Paulista e foi incapaz de construir uma catedral.

(A Sé só não é mais anacrônica do que a Catedral de Saint Patrick, em Nova York. Lá, um gótico em frente ao Rockefeller Center, que perde para o Saks em imponência. Aqui, um prédio gótico numa cidade cortada pelo Trópico de Capricórnio...)

A burguesia de São Paulo não mudou nada.

Só sabe tirar. Não sabe botar.

Tem dezoito seguranças na porta do prédio, mas é incapaz de dar um tostão para cuidar do jardim da praça pública em frente ao prédio.

O prédio é da burguesia. O jardim é do publico, dos outros.

Dentro dos apartamentos, a coleção de arte tem peças fabulosas.

E o acervo dos museus?

Que falta fazem o Chateaubriand e o Pietro Maria Bardi, que sabiam tomar grana dos ricos para construir um museu que pagava a conta de luz...

Que saudades do governador que espinafrava a “elite branca”.

(*) Na virada do século XIX para o século XX, o Sr. Frick era um dos reis do carvão, que se notabilizou por mandar matar operários grevistas. Fazia parte daquele conjunto conhecido como “robber barons”. O problema é que, aqui, os “robber barons” preferem entrar para a história como “robber barons” e não como colecionadores de Vermeers...

Em tempo: Uma amiga brasileira, professora de História da Arte, leu este texto sobre a fuga da maravilhosa coleção de Leirner para Houston. Ela acabou de assistir em Nova York à peça de Tom Stoppard “The coast of Utopia” (A costa da Utopia), uma trilogia sobre a vida intelectual na Rússia no inicio do Século XX. Ela selecionou, a propósito da inação dos burgueses de São Paulo, essa frase fantástica de Stoppard: “It takes wit and courage to make our way while our way is making us, with no consolation to count on but art and the summer lightning of personal happiness”. (É preciso ter sabedoria e coragem para traçar o nosso caminho, enquanto o nosso caminho nos faz, já que só há consolo na arte e no breve raio de verão da nossa felicidade).

(A tradução é minha – e vocês, leitores, mereciam uma melhor).

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/422001-422500/422496/422496_1.html


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2 Comments:

Blogger Agente 65 said...

Esta é a elite brasileira!

9:57 PM  
Blogger José Elesbán said...

Ah é! Ou pelo menos uma parte bastante representativa.

1:02 AM  

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