Pouco Comparecimento à Missa em Homenagem de Adolescente de Favela Morta por Bala Perdida - Folha de São Paulo, 13/03/2007
DA SUCURSAL DO RIO
A missa de sétimo dia de Alana Ezequiel, que faria hoje 13 anos e foi morta por uma bala perdida no morro dos Macacos (zona norte do Rio) durante confronto entre policiais e traficantes, não teve a mesma atenção da população que ganhou a de João Hélio Fernandes, 6, há um mês.
As cadeiras vazias da igreja da Candelária (centro), com capacidade para mil pessoas, causaram constrangimento aos cerca de 80 presentes.
"Às vezes as pessoas têm outro sentimento para essas vítimas [de família pobre]. É decepção atrás de decepção. A sociedade põe a culpa nas autoridades, mas não entende o seu papel. Isso aqui deveria estar lotado", disse Cleide Prado, mãe de Gabriela Prado, morta em 2003 por uma bala perdida.
Organizadora da missa, Patrícia Oliveira, da Rede de Movimentos Contra a Violência, desabafou: "Quem não sabia que ia acontecer isso? O objetivo era este mesmo: mostrar a diferença." Também não havia moradores do morro dos Macacos. "É a primeira vez que a gente faz uma missa na Candelária, marco da alta sociedade do Rio. Talvez eles tenham se acanhado", disse Oliveira. À noite, haveria uma missa numa igreja no acesso à favela.
A missa de João Hélio, arrastado preso ao cinto de segurança do carro dos pais, reuniu centenas de pessoas no local.
Os pais dele, Rosa Cristina Fernandes e Elson Lopes Vieites, foram à missa ontem, assim como Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas, cujo guitarrista Rodrigo Silva Netto foi morto em junho.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da PM, Ubiratan Ângelo, também compareceram. Ao consolar a faxineira Edna Ezequiel, 31, mãe de Alana, Beltrame foi cobrado: "Quero saber de onde veio a bala". Ele ficou em silêncio.
Mais balas
Duas mulheres foram atingidas por balas perdidas ontem, na Cidade de Deus (zona oeste). Não havia operação policial.
Aparecida Gonçalves de Oliveira, 32, atingida na mão, e Cristiane Barbosa, 19, na perna, não correm risco de morte.
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