terça-feira, abril 10, 2007

Biocombustíveis

Desde que a crise do petróleo se anunciou com mais força desde a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, há alguns anos atrás, aumentaram as especulações e expectativas em torno de biocombustíveis, isto é, combustíveis produzidos a partir de basicamente vegetais, sendo o caso mais notável, o álcool de cana produzido em larga escala no Brasil. Para se adequar ao jargão internacional, nosso álcool está se tornando o cosmopolita "etanol".
No turbilhão de opiniões, há o ufanismo, que no seu extremo diz que o Brasil se tornará uma Arábia Saudita dos biocombustíveis, e também há o pessimismo, que no outro extremo diz que toda a Floresta Amazônica será derrubada para plantio de cana-de-açúcar.
Pelo histórico, sou levemente pessimista, haja vista o histórico da cana-de-açúcar no Brasil, que gerou alguns poucos ricos, e degradou à condição de escravos milhões de africanos e seus descendentes. Fomos o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão, que se consolidou por aqui, com as plantações de cana-de-açúcar. O penúltimo país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão foi Cuba, em 1884 (na verdade, em 1884 ainda era uma colônia espanhola, mas na própria Espanha não havia escravidão, de forma que a escravidão em Cuba surgiu para atender uma demanda de mão-de-obra da ilha), onde a mão-de-obra escrava também servia ao cultivo da cana-de-açúcar.
E no Brasil moderno de hoje, ainda vemos cortadores de cana ganhando salários baixíssimos, e algumas vezes morrendo extenuados de suas tarefas, de horas e horas sob o sol escaldante, com uma carreira que durará no máximo uns 15 anos.
Agora, uma pequena nota na coluna do jornalista Elio Gaspari, reproduzida no jornal Correio do Povo, deste domingo, 8 de abril, nos dá uma dimensão humana, digamos assim do que pode ser o biocombustível. Ali ele comenta um artigo publicado por C. Ford Runge e Benjamin Senauer, na revista Foreign Affairs. O artigo informa que um SUV ("Sport Utility Vehicle", ou veículo esportivo utilitário: pense na Chevrolet Blazer, ou na Mitsubishi L200, ou na Toyota Hilux, e assemelhados) consome, em calorias geradas a partir de álcool de milho, em um tanque, o equivalente às calorias necessárias para um ser humano por um ano.
Ninguém come apenas derivados de milho durante um ano, mas a comparação dá o que pensar.

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