Clóvis Rossi: Malucos no Cassino - Folha de São Paulo, 1 de Março de 2007
Minutos malucos no cassino
SÃO PAULO - Você pode escolher a explicação que preferir para o abalo da terça-feira nas Bolsas do planeta. A grande maioria delas tem até algum fundamento. Mas a explicação de fundo, o que está por trás de tudo, é o cassino em que se transformou o capitalismo nesta era de predomínio avassalador da finança sobre a produção.
É só ler o que diz a "Agenda Global", da revista britânica "The Economist". Conta que, na Bolsa de Nova York, o "pior ponto do dia [a terça-feira] foi durante uns poucos minutos malucos em torno de 15 h".
Até então, a queda havia sido de pouco mais de 200 pontos. Subitamente, despencou "mais um par de centenas de pontos em menos de um minuto -taxa de declínio que os operadores disseram ser sem precedentes".
Queda total: 416 pontos, mais da metade deles "durante uns poucos minutos malucos".
O que aconteceu nesses minutos para explicar uma queda sem precedentes? Um ataque terrorista derrubou o Empire State Building ou a Muralha da China ou o Big Ben? Os fundamentos da economia norte-americana foram todos para o brejo em menos de um minuto? O presidente George Walker Bush é, na verdade, Osama bin Laden disfarçado. Nada, nada, nada.
Nesses minutos malucos, os juros nem subiram nem desceram, não houve sinal de aceleração ou de desaceleração da economia, não se retirou o Oscar de Martin Scorcese, ninguém foi eliminado nos muitos "big brothers" que as TVs mostram mundo afora. Nada.
Vale o mesmo para a subida de 12% no tal risco-país relativo ao Brasil. Nada mudou de segunda para terça-feira para que o risco subisse, ou de terça para quarta para que caísse.
Lula nem reformou o ministério, o que eventualmente justificaria o aumento do risco ou sua queda. Nesse cassino, ganha a banca. Sempre. Banca sem rosto.
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Marcadores: economia, economia mundial, especulação, finanças
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