domingo, setembro 13, 2009

Esporte e política

Esporte e política

EU NÃO JOGO golfe. Fiz algumas aulas quando criança, mas o esporte nunca me conquistou. Mesmo assim, fiquei admirado ao descobrir que o golfe se havia tornado o mais recente objeto de desaprovação do líder venezuelano, presidente Hugo Chávez. "Há esportes e esportes", ele declarou uma semana atrás na televisão venezuelana: "Vocês querem que eu acredite que esse é um esporte popular?".
Hugo Chávez joga beisebol. O beisebol foi importado para a Venezuela dos EUA, que não são o país favorito de Hugo Chávez. Na Escócia, onde o golfe surgiu, o esporte era visto como campo de teste ideal para o calvinismo. Daniel Freedman, nesta semana, no "Wall Street Journal", citou Alistaire Cook, britânico que se tornou um ícone na TV dos Estados Unidos e segundo o qual "as armadilhas, os arbustos, urzes e giestas, as colinas e pequenas ondulações do terreno, eram vistos não como incômodos, mas como obstáculos naturais, como lembretes a todos os pecadores originais de que, em competição com o Altíssimo, eles não prevaleceriam".
A decisão de Chávez de expropriar os campos de golfe da Venezuela, para, sem dúvida, abrir espaço a habitações populares, parece um pouco com os ataques do governo iraniano contra a pobre Inglaterra, descrita como origem de seus problemas de legitimidade depois da recente eleição presidencial no país. É certo que haveria muito o que reclamar quanto ao passado. A Inglaterra desempenhou papel decisivo em diversos golpes no Irã.
Mas, em 2009, a crise na política iraniana foi causada pelo Irã. Dessa vez, os britânicos, como aliás os EUA, interpretaram no máximo papéis coadjuvantes no drama iraniano. Como no caso de Hugo Chávez e os campos de golfe venezuelanas, o golfe é uma desculpa. Freedman aponta que China, Rússia e Cuba proibiram o golfe décadas atrás. Mas os soviéticos construíram seu primeiro clube de golfe em 1988, um ano antes da queda do Muro de Berlim. O golfe é hoje um esporte popular em muitas partes do mundo.
A Inglaterra joga críquete, claro. Allen Stanford, um empresário do Texas que em 2006 ganhou um título de cavaleiro britânico por indicação das ilhas de Antigua e Barbuda, no Caribe, tornou o jogo mais dinâmico por meio de partidas que se encerram em um só dia e de altos prêmios em dinheiro.
Mas Sir Allen provou ser um falso amigo. Foi acusado recentemente pelas autoridades dos Estados Unidos de conduzir "uma imensa fraude de magnitude chocante". Entre suas vítimas estão aparentemente diversos venezuelanos, muitos dos quais sem dúvida golfistas cujas pistas Hugo Chávez agora planeja desapropriar.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Publicado na Folha de São Paulo, de 20 de agosto de 2009.

Está copiado aqui por causa desta “história do golfe”.


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