domingo, setembro 13, 2009

Sinais de esperança na Palestina II

Sinais de esperança na Palestina II

Thomas L. Friedman
Dos Estados Unidos

RAMALLAH, Margem Ocidental (Cisjordânia). - Desde a queda dos acordos de paz de Oslo em 2000, e do espetáculo de horror que se seguiu, somente uma coisa se podia dizer sobre a Margem Ocidental: nada muda aqui, exceto quando a situação piora. Esse não é mais o caso, o que me causou grande surpresa.

Para os palestinos, há muito tempo encurralados atrás dos pujantes assentamentos israelenses e de um exército israelense de ocupação, submetidos à ilegalidade em suas próprias cidades e à vontade dos seus próprios dirigentes políticos, a vida começou a melhorar um pouco, graças a um novo ciclo de progresso: uma melhoria na política palestina que deu origem a maiores investimentos e a um crescimento do comércio palestino, o que fez com que o exército israelense desmantelasse mais barreiras na Margem Ocidental o que, por sua vez, deu lugar a mais viagens e comércio dos palestinos.

Como a Margem Ocidental (Cisjordânia) atualmente está, na sua maior parte, separada dos israelenses por um muro, estão apenas começando a tomar conhecimento, por seus próprios noticiários, daquilo que está ocorrendo aí. Em 31 de julho, muitos israelenses foram surpreendidos quando leram a seguinte notícia no jornal Maariv, da boca de Omar Hashim, o vice-presidente da Câmara de Comércio de Naplusa, o centro comercial da Cisjordânia: "Aqui, os comerciantes estão satisfeitos", disse Hashim. "Suas vendas estão crescendo. Sentem que a vida está voltando à normalidade. Pode-se perceber uma forte sensação de otimismo".

Mas não podemos nos confundir: os palestinos ainda querem que a ocupação israelense acabe, e que o seu próprio Estado surja amanhã. Isso não vai ocorrer. Porém, pela primeira vez, desde os acordos de Oslo, está surgindo uma dinâmica econômica e de segurança no território da Margem Ocidental, com o potencial - o potencial - de dar aos palestinos posteriores a Yasser Arafat outra oportunidade para criarem o tipo de autogoverno, exército e economia que são pré-requisitos para garantir o seu próprio Estado independente. Talvez, uma vez mais, estejam cobrando a paz de um sócio palestino.

A chave para o seu renascimento foi o recrutamento, treinamento e posicionamento estratégico de quatro batalhões de novas Forças Nacionais da Segurança Palestina (FNS) - uma ação liderada pelo Presidente Mahmoud Abbas e pelo Primeiro Ministro da Autoridade Palestina, Salam Fayyad. Treinados na Jordânia por um programa pago pelos Estados Unidos, três desses batalhões se posicionaram a partir de maio de 2008 e levaram ordem às principais cidades de palestinos: Naplusa, Jericó, Hebron, Ramallah, Jenín e Belém.

Estas tropas, que substituíram os soldados israelenses ou facções palestinas, tiveram uma grande aceitação da população local. Recentemente, efetivos das FNS eliminaram uma célula da Qalqilya, e também registraram baixas. A morte de combatentes do Hamas somente atraiu a atenção, mas uma homenagem à memória dos soldados das FNS mortos atraiu milhares de pessoas. Pela primeira vez, ouvi oficiais israelenses do alto escalão dizendo que estas novas tropas de palestinos são profissionais e sérias.

O chefe do estado-maior do exército israelense, Tenente-General Gabi Ashkenazi, endossou isso com a eliminação de quase dois terços dos 41 bloqueios que Israel levantou ao redor da Margem Ocidental, muitos deles existentes desde 2000, com o objetivo de frustrar os ataques suicidas dos palestinos. Estas barreiras - onde os palestinos, com frequência, tinham que esperar duas horas somente para cruzar de uma cidade a outra e também não podiam dirigir seus próprios automóveis, mas tinham que ir de táxi, - sufocava o comércio palestino. Israel também está permitindo novamente que árabes israelenses conduzam seus próprios veículos no interior da Cisjordânia aos sábados, para fazer compras.

"O movimento pode ser sentido", destacou Olfat Hammad, diretor-adjunto do Centro Palestino de Estratégia e de Pesquisas de Opinião, que vive em Naplusa e trabalha em Ramallah. "O deslocamento em Ramallah, para reuniões de negócios e sociais, não é mais uma tarefa difícil". Recentemente, Naplusa abriu o seu primeiro centro com salas de cinema, a "Cidade Cinema", bem como um mercado de móveis em um prédio de vários pavimentos, que foi projetado para prestar serviços aos israelenses. Além disso, os preços dos bens de raiz dispararam em Ramallah.

"Houve um aumento de 70 por cento nas vendas", mencionou o jornal Maariv, citando as palavras de um proprietário de uma sapataria. "Estamos vindo das comunidades dos arredores, bem como de outras cidades da Margem Ocidental e de Israel".

Independentemente do anterior, homens e mulheres não vivem somente das vendas de calçados. A única forma dos dirigentes palestinos que conduzem este espetáculo preservarem a sua legitimidade é a autoridade política outorgada ao longo do tempo, e não somente poderes policiais sobre a Margem Ocidental; ou quando um mapa indicar que eles estão nesse caminho. "Nossa gente precisa ver que estamos nos governando sozinhos e que não somos simples subcontratados da segurança israelense, disse Fayyad. Jalil Shikaki, proeminente entrevistador palestino, acresceu que Abbas e Fayyad querem "ser vistos como se estivessem construindo um Estado palestino; e não segurança sem um Estado". É por isso que "deve haver progresso político além do progresso na segurança. Sem estas condições, isso dói muito".

Os Estados Unidos devem fomentar este ciclo de paz: mais dinheiro para treinar efetivos militares dos palestinos que tenham credibilidade, maior impulso para que Israel corra riscos com a eliminação das barreiras, maior crescimento econômico para os palestinos e negociações mais ágeis sobre os contornos de um Estado palestino na Margem Ocidental. Hamas e a Faixa de Gaza podem ser agregadas posteriormente. Não esperem. Se nós construirmos, eles virão.

Texto de Thomas Friedman, no Terra Magazine.

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