Senado colombiano aprova referendo para Uribe tentar terceiro mandato
Senado colombiano aprova referendo sobre 2ª reeleição
Texto precisa ser negociado com Câmara e aprovado pela Justiça antes de convocação
Caso iniciativa governista supere essas barreiras, população decidirá se o popular Uribe poderá buscar terceiro mandato em 2010
DA REDAÇÃO
O Senado da Colômbia, de controle governista, aprovou ontem a convocação de referendo para permitir ao presidente Álvaro Uribe concorrer a um terceiro mandato. A votação, a última de quatro no plenário, foi marcada por insinuações de compras de voto por parte da oposição.
Uribe, popular presidente conservador no poder desde 2002, aproxima-se ainda mais de uma nova candidatura em 2010, mas no caminho até as urnas o texto do referendo terá de ser compatibilizado com o aprovado na Câmara, em dezembro, e passar ainda pelo crivo da Corte Constitucional.
A tropa de choque uribista, encabeçada pelo ministro do Interior, Fabio Valencia, agora parte para convencer uma comissão de deputados, liderada por um opositor à ideia, a aceitar o texto do Senado, que permite três eleições seguidas para mandatos de quatro anos.
O referendo da Câmara abre caminho para Uribe disputar só em 2014 por conta de detalhe no texto: cita presidentes que "cumpriram" dois mandatos, e não "eleitos" duas vezes.
Espera-se que o presidente vença as resistências -Uribe tem maioria na Casa-, apesar dos sinais de que há aliados querendo barganhar mais.
No Senado, os governistas tentaram votar o texto na semana passada, mas não houve quórum, em meio a exigências de pequenos partidos aliados por mais cargos. Nos últimos dez dias, a base também perdeu mais cinco senadores acusados de ligação com paramilitares -o escândalo da parapolítica já tirou 30% dos nomes da Casa-, e não houve condições de empossar todos os suplentes.
Ontem, os dois principais partidos de oposição, o esquerdista Pólo Democrático e o centrista Partido Liberal, acusaram Uribe de jogar sujo e deixaram o plenário. Ainda assim, o projeto passou com 62 votos a favor e 5 contra (ao todo, são 102 integrantes). "O senhor [ministro Valencia] não pode ir de cadeira em cadeira [negociar apoio]. A votação é suja", disse o senador liberal Héctor Helí.
Cronograma e escândalos
Para os uribistas, a preocupação é o cronograma, porque o referendo terá de ocorrer até novembro, seis meses antes da eleição, em maio de 2010, para que Uribe possa concorrer.
A Corte Constitucional tem até 120 dias para dar aval ao referendo, e, se isso ocorrer, Uribe convocará a votação por decreto. Paralelamente, a autoridade eleitoral investiga irregularidades no financiamento da campanha que recolheu 5 milhões de assinaturas para propor o referendo em 2008.
Por via das dúvidas, enquanto Uribe evita dizer publicamente que quer um terceiro mandato, dois uribistas pregam lealdade a ele, mas já alistaram suas "candidaturas-reserva". A principal delas é a de Juan Manuel Santos, que anunciou anteontem que deixará no sábado o crucial Ministério da Defesa.
Em termos de apoio popular, o referendo não teria problemas, apesar dos sucessivos escândalos envolvendo o governo. Pesquisa Gallup deste mês relata que 59% dos colombianos votariam na consulta, e 84% desse grupo diria "sim" a um novo mandato a Uribe.
O mais recente e grave escândalo envolvendo Uribe investiga interceptações telefônicas ilegais feitas pela agência de inteligência a juízes, políticos e jornalistas na eleição de 2006, a primeira reeleição de Uribe.
No ano passado, Uribe teve de responder justamente pela acusação de ter comprado voto para passar a mudança de 2006, após uma ex-deputada confessar ter sido aliciada e ser condenada pela Justiça.
Com agências internacionais
Notícia da Folha de São Paulo, de 20 de maio de 2009.
Marcadores: Álvaro Uribe, Colômbia, reeleição, Uribe
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