Paulo Santana Comenta Renan Calheiros: O Azar do Senador
O azar do senador
Ontem, fiquei penalizado com o senador Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado.
No seu discurso de explicações por se ter envolvido na Operação Navalha, ele disse que entregava o dinheiro para pagamento de uma pensão alimentícia de seu encargo para um lobista de uma construtora por entender que era uma maneira discretíssima para tratar de uma questão pessoal de delicada privacidade.
Então o senador mandava dinheiro para a empreiteira todos os meses. E o lobista da empreiteira que ergue obras para o governo, Cláudio Gontijo, repassava o envelope com os R$ 16 mil para a jornalista com quem o senador tivera uma filha.
Era tudo muito discreto. Como o senador queria.
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Apesar de que seria muito mais discreto que o senador todos os meses passasse um cheque e o depositasse na conta da mãe de sua filha.
Só que a Polícia Federal (ou a revista Veja) monitorava todos os meses a entrega do dinheiro à pensionista no recinto da empreiteira.
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Eu fiquei com compaixão do senador Renan Calheiros porque é a primeira vez na história da República que um mensalão tem origem num bolso de político. O dinheiro era da propriedade do senador.
E ineditamente acontecia o contrário da rotina: o político entregava o dinheiro todos os meses para a empreiteira.
O usual é a empreiteira entregar dinheiro para políticos, como parte do superfaturamento de obras.
É completamente inusual o que acontecia com o senador Renan Calheiros: ele mandava dinheiro para a empreiteira.
Diga-se a bem da verdade que o lobista da empreiteira, Cláudio Gontijo, confessou que repassava todos os meses o dinheiro para a mãe da filha do senador, a administradora da pensão alimentícia.
Eu fiquei com pena do senador Renan Calheiros porque ele tinha de prestar a pena perpétua da pensão alimentícia, mensalmente, mandando dinheiro para uma empreiteira.
As empreiteiras que fazem obras para o governo, freqüentemente superfaturam essas obras. E não raro dotam de propinas os políticos que facilitam esse superfaturamento e a entrega incompleta e defeituosa das obras.
Pois no caso do senador Renan Calheiros, foi o contrário: ele teve um azar homérico, o amigo dele, a única pessoa em que ele confiava para entregar o dinheiro de forma discreta para a pensionista era, por acaso, lobista de uma empreiteira.
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Por isso me penalizou o senador. Um senador mandando dinheiro todos os meses para uma empreiteira, realmente, é um ato surpreendente.
Mas que azar do senador, o dinheiro era repassado todos os meses para a pensionista, num envelope, no recinto da empreiteira, conforme confessou o lobista da empreiteira. E justamente a acusação contra o senador surgiu na revista Veja no auge da empreiteira Gautama sendo flagrada na propinagem a políticos.
Que azar do senador.
Estou para dizer que o único dinheiro que entrou no recinto daquela empreiteira em todos os tempos, que não era proveniente de obras, foi esse dinheiro por dezenas de meses enviado pelo senador.
É muito azar do senador. E embora todo o país tivesse acreditado ontem no senador, me restou uma pena pelo azar dele.
Logo nesta hora grave, mandar dinheiro vivo para empreiteira, em vez de enviá-lo por cheque pelo banco, foi muito azar do senador.
E o cúmulo do azar do senador: nem a revista Veja nem a Polícia Federal monitoraram a entrega em dezenas de meses do dinheiro pelo senador ao lobista da empreiteira.
É muito azar do senador.
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