Lulato?
Quando a oposição perde, apita: PRIiiiiii!
QUANDO A OPOSIÇÃO brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: "PRIiii!". É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil. Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.
O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo. Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB. A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI. Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 estados. Não se falou mais em PRI.
Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI! Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.
Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar 20 anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.
É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar. O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais. Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de "Jefe Máximo". Esse período da história mexicana é conhecido como "Maximato". A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.
A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia "El Jefe Máximo" teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas. Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do "Maximato", inclusive um ex-presidente e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.
O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido. Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só. O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, "El Jefe Máximo", que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o "grande mestre, ele nos ensinou o caminho".
Coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo, de 1º de setembro de 2010.
Esta coluna do Gaspari está muito curiosa. Não me lembro de um nível de informalidade em textos dele que use uma expressão como “tucanato abichornado”.
Há alguns acréscimos a fazer. O México chegou à sua revolução depois de vários anos do “Porfiriato”, onde o então presidente Porfírio Diaz governou por vários anos, em sucessivas reeleições, provavelmente fraudadas. A Revolução Mexicana matou muita gente, inclusive seu primeiro líder, Francisco Madero, que buscava justamente o fim das reeleições de Diaz, bem como os mais populares e conhecidos líderes, Pancho Villa e Emiliano Zapata, como recorda Gaspari.
Elias Calles e Lázaro Cárdenas aparentemente tiveram alguma força militar por trás de sua força política. Não sei se isto se aplica ao “Nosso Guia”, isto é, ao presidente Lula, na maneira como Gaspari gosta de se referir a ele. Do General Médici, não se pode falar. Tinha toda a força militar por trás de si, além do AI5 que lhe permitia cassar mandatos e direitos políticos ao seu arbítrio, ao largo da constituição e do sistema legal que o próprio regime militar havia montado.
O presidente Lula se tornou um campeão de votos. Mas a oposição vai chegar ao poder em alguns estados. Inclusive no mais rico deles, São Paulo, onde se encaminha para 20 anos de continuísmo.
Marcadores: Brasil, eleições 2010, Elio Gaspari, governo, governo e oposição, notícia e comentário jar, oposição
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home