quarta-feira, abril 14, 2010

Começou a campanha presidencial de 2010

Começou a campanha presidencial de 2010


E a grande mídia vem junto.


Talvez a campanha já tenha começado quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu indicar a ministra Dilma Rousseff como a candidata governista na sucessão presidencial, numa situação que ficou muito parecida com o antigo “dedazo” mexicano1. Afinal, desde então, o jornal Folha de São Paulo já divulgou como autêntica uma “ficha criminal” da ministra Dilma, que aparentemente foi uma falsificação produzida por software de edição gráfica, e criou um factóide entre a ministra e a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que montou um amplo palco para a oposição chamar a ministra de “mentirosa”.


Dois eventos marcaram este final de semana que passou, um pela situação, outro pela oposição.


No caso da candidatura governista, lá pelas tantas do discurso, Dilma Rousseff disse que ela não era mulher de fugir da luta, ou algo que o valha. Pronto. A oposição e a grande mídia já aproveitaram para dizer que a ex-ministra havia condenado os brasileiros que deixaram o país durante a ditadura militar, enquanto ela havia ficado, aderido à resistência armada, e posteriormente sido presa, torturada e condenada à prisão naqueles anos de chumbo. Haja suscetibilidade para fazer este tipo de ilação. Haja vontade de inventar fatos. A candidata afirmando que está se lançando à luta (isto é, à sua candidatura, que já é possível ver sofrerá oposição acirrada) no presente, e o pessoal já está lhe tentando impingir acusações de arrogância, com base em seu passado. Hoje ainda (14/04/2010), o jornalista Fernando Rodrigues está explorando a questão na Folha de São Paulo. No caso ele alega que a interpretação de impingir o rótulo de “covarde” a quem se exilou durante a ditadura (o que incluiria o candidato José Serra) foi de “blogs petistas e dilmistas”. Se é de fato o caso, tais blogs petistas e dilmistas se deram um tiro no pé. Mas não posso deixar de pensar que a grande imprensa, em qualquer caso, aproveitou para carregar nas tintas, e bombardear a candidatura governista.


Pelo lado da oposição houve o lançamento semi-oficial da candidatura do ex-governador de São Paulo, José Serra, à presidência pelo PSDB. Digo semi-oficial porque oficialmente as candidaturas só poderão ser lançadas em julho, segundo o calendário eleitoral. Mas em todo o caso, a candidatura oposicionista também está na rua. E o discurso do candidato José Serra veio com frases de efeito, tais como “o Brasil não tem dono” (possivelmente pensando nos níveis de aprovação de cerca de 80% do presidente Lula), ou que sua candidatura era “para unir o Brasil” (talvez referência a um certo, digamos, facciosismo do PT?). De quebra, em sua coluna de hoje, o jornalista Elio Gaspari, dá uma força para a campanha de José Serra, mesmo que este não seja o seu propósito principal. A coluna contém trechos como “O lançamento da candidatura de José Serra com uma proposta de superação das divisões políticas nacionais, porque 'o Brasil não tem dono' e 'pode mais', obriga o comissariado petista a refletir sobre sua plataforma eleitoral.”, ou “Serra propõe a unidade do país e terá os próximos meses para botar substância nessa proposta. Por enquanto, dispõe da colaboração de Nosso Guia, com suas declarações desrespeitosas ao Poder Judiciário e ao aparelho de fiscalização do Estado. Mais: Lula comporta-se como dono do país quando se mostra confortável na condição de padrinho, animador e empresário de Dilma Rousseff.”. Logo o Gaspari, que eu reputo como o melhor e mais equilibrado jornalista do Brasil2. Mas não importa, vamos em frente. O Brasil não tem dono mesmo, e o fato do presidente Lula ter 80% de aprovação não significa que a candidata dele à sua sucessão vá receber votação de 80% do eleitorado (na verdade, 80% de aprovação não garante nem mesmo que a candidata governista vença a eleição como demonstrou a recente eleição chilena, onde a ex-presidente Michelle Bachelet tinha níveis recordes de aprovação, mas não logrou fazer seu sucessor). Contudo, acho difícil que os tucanos, sob a liderança de José Serra, sejam as pessoas mais habilitadas a “unir o Brasil”. Nos seus quatro anos de governo em São Paulo, o governador José Serra permitiu uma batalha campal entre policiais civis em greve e policiais militares. Permitiu que uma greve de professores durasse um mês, e, pelo que eu soube, nem mesmo recebeu alguma comissão de grevistas, sem contar os incidentes em que a policia militar paulista foi chamada a reprimir manifestações. No Senado a comissão de relações exteriores, senador tucano Eduardo Azeredo à frente, está bloqueando nomeação de embaixadores, para demonstrar sua insatisfação com a política externa do governo federal (seria isto atitude em prol da “união nacional”?). Pode ser só opinião minha, mas eu vejo muito mais autoritarismo nos discursos de José Serra, ou no então candidato Geraldo Alckmin, em 2006, do que nos pronunciamento do presidente Lula (a candidata Dilma é um caso que eu ainda não avaliei). Em todo o caso, este papo de “unir o país” e “superar divisões” me parece mais assunto de nações governadas por regimes de partidos únicos. Desde que foram restabelecidas eleições diretas no país o candidato vencedor no segundo turno de votação recebe algo entre 53 e 60% dos votos.


Por fim, a campanha presidencial começou. Ela promete tantos ou mais golpes baixos e pegadinhas quanto as recentes eleições passadas.



1O PRI – Partido Revolucionário Institucional reinou no México desde o final da Revolução Mexicana, no final dos anos 1910 até a recente eleição de Vicente Fox, do PAN – Partido de Ação Nacional. Desde comecei a prestar alguma atenção nisso, era comum ouvirmos no noticiário que o presidente em exercício “indicava” o seu sucessor na máquina do PRI. Assim, José López Portillo indicou Miguel de la Madrid, este indicou Carlos Salinas de Gortari, que, por sua vez, indicou Ernesto Zedillo. Era o famoso “dedazo”. Nesse período o PRI envolvia de tal maneira a sociedade mexicana que era muito difícil a oposição ter chances nas eleições.

2Se não é o melhor jornalista do Brasil, pelo menos é o que eu mais gosto de ler nos chamados grandes veículos que eu ainda acompanho. Neste blog mesmo já foi comentado o equilíbrio do jornalista durante a campanha presidencial de 2006: http://aindaamoscaazul.blogspot.com/2006/10/o-presidente-lula-precisa-refletir.html


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