segunda-feira, dezembro 21, 2009

Mercado não é país

Mercado não é país

SÃO PAULO - Dois estudos muito recentes mostram que a emergência do Brasil é muito mais do mercado brasileiro (setor financeiro, empresas) do que do país propriamente dito.
O primeiro estudo, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, intitulado "Presença do Estado no Brasil", mostra imensas deficiências nas mais diferentes áreas (www.ipea.gov.br/default.jsp).
Cito apenas um dado: só 157 municípios do país (2,8% do total) têm estabelecimento público de ensino superior. Desses, 23,6% se localizam em São Paulo, "o que demonstra grande concentração geográfica das universidades públicas".
Resumo de Marcio Pochmann, o presidente do Ipea: "Precisamos de um esforço enorme do ponto de vista de educação, saúde e cultura.
Há um descompasso muito grande entre avanço econômico e a vida urbana do século 21".
O segundo estudo é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, responsável pelo Índice de Desenvolvimento Humano.
Aliás, só o fato de o Brasil, oitava ou nona economia do mundo, estar em 75º lugar nesse índice já diz muita coisa.
Mas o estudo, nos quatro países do Mercosul, mede a porcentagem de jovens em situação de privação em quatro áreas: saúde e risco ambiental; acesso a educação; acesso a recursos (rendimento e condições de moradia) e exclusão social, num total de oito indicadores.
Conclusão: 51,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos apresentam pelo menos um tipo de privação dessas quatro. Chocante é o dado sobre educação: apenas 80% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos têm seis anos ou mais de estudo. Na Argentina e no Uruguai, são 95%; e até no desprezado Paraguai chegam a 89%.
É triste, mas mais triste é tentar maquiar a realidade, como fazem certos governistas.

Texto de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo, de 17 de dezembro de 2009. Claro que a última frase é totalmente supérflua, mas o colunista gosta de xingar o governo, ou, como ele diz, “certos governistas”. Talvez uma espécie de catarse.

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