segunda-feira, maio 18, 2009

Bento 16, um papa político no Oriente Médio

Bento 16, um papa político no Oriente Médio

Stéphanie Le Bars

Três destinos sensíveis, quatro assuntos de peso. Durante uma semana e quase trinta discursos na Jordânia, em Israel e nos territórios palestinos ocupados, o papa Bento 16 tinha pelo menos sete boas razões para tropeçar. Não chegou nem perto. Bento 16 dominou de forma geral os aspectos geopolíticos da região, ainda que, ao longo da viagem que terminou na sexta-feira (15), ele não tenha conseguido evitar todos os obstáculos previsíveis em um contexto em que a religião tem parte com a política. Sem deixar de lado sua rigidez e seu registro de teólogo, o papa falou de política e se transformou em defensor do diálogo entre as religiões e as culturas.

Para essa 12ª viagem ao exterior, a agenda era ambiciosa. E o contexto, desfavorável. Bento 16 deveria promover o diálogo interreligioso com os muçulmanos, ainda mais com os judeus; incentivar a paz entre Israel e os territórios palestinos e pressionar pela criação de um Estado palestino; apoiar a presença de cristãos na região.

O diálogo entre islâmicos e cristãos, que se tornou uma grande aposta do pontificado desde a controvérsia suscitada pelo discurso do papa em Regensburgo (Baviera) - no qual os muçulmanos haviam entendido uma crítica ao Islã -, esteve no cerne da etapa jordaniana e da passagem por Jerusalém. Apesar das tentativas de recuperação política por parte de dirigentes muçulmanos, foram dados passos importantes. Só a visita ao Domo da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, constitui um sinal significativo da confiança entre uma parte das elites muçulmanas e o Vaticano.

O balanço é menos positivo para as relações entre judeus e cristãos e para a imagem do papa na sociedade israelense. Bento 16, que supostamente deveria sanar um período de tensões com o mundo judeu, perturbado pela retirada da excomunhão do bispo negacionista Richard Williamson, perdeu uma boa chance, do ponto de vista israelense. Para alguns rabinos israelenses, seu discurso em Yad Vashem, distante demais, não chamou atenção o suficiente para o papel da Igreja no antissemitismo.

Esse conflito não questionará as relações que já existem entre judeus e cristãos, mas as declarações de boa vontade não serão o suficiente para remover, como esperava Bento 16 no começo da viagem, "os obstáculos para a reconciliação de cristãos e judeus".

O diálogo interreligioso, seja bilateral ou trilateral, está longe de estar maduro, apesar de uma vontade, bem compartilhada pelos dirigentes religiosos, de defendê-lo. A imagem do papa apertando a mão de um rabino e de um dignitário druso em Nazaré será uma das imagens-símbolo dessa viagem. Na essência, o papa quis chamar a atenção mais para os "valores comuns" às três religiões do que para as diferenças. Ainda que ele continue sem enveredar pelo caminho de um diálogo teológico, trata-se de uma evolução sensível para um papa que, no início de seu pontificado, havia considerado urgente eliminar o dicastério [subdivisão da cúria romana] encarregado do diálogo interreligioso. Ele o restabeleceu após a controvérsia de Regensburgo. Mesmo assim, as tensões e a desconfiança nesse terreno fazem pensar sobre a possibilidade de uma coexistência tranquila e duradoura.

Mas é na questão entre israelenses e palestinos que esse papa, normalmente tão pouco político, surpreendeu. A viagem, feita pouco mais de quatro meses depois da ofensiva israelense em Gaza e algumas semanas após a chegada de um novo governo israelense que está mais para "falcão" do que para "pomba", parecia minada. Os palestinos temiam que essa viagem acabasse constituindo uma carta branca dada à política israelense. O papa tinha "ciência" dessas dificuldades, segundo o porta-voz do Vaticano, e é preciso reconhecer que nada disso aconteceu.

Preocupado em conservar uma posição "equilibrada", Bento 16 evocou "a segurança de Israel" e condenou o "terrorismo", dando ao mesmo tempo sinais fortes de apoio e de compreensão aos palestinos; ele pediu com insistência pela criação de um Estado palestino. Com exceção da espinhosa questão de Jerusalém, classificada como "cidade da paz, lar espiritual para os judeus, cristãos e muçulmanos", e de sua reticência, ressaltada pelos palestinos, em falar de uma "ocupação" israelense, o papa não evitou quase nenhuma questão que seus anfitriões da Cisjordânia pudessem querer que ele levantasse.

Como um diplomata respeitoso das resoluções das Nações Unidas, ele evocou, às vezes com força, a situação em Gaza, as dificuldades causadas pelo muro de separação, a questão dos refugiados, o acesso aos lugares santos, os prisioneiros políticos... "Os muros podem ser derrubados", proclamou em Belém o papa alemão, surpreso com a descoberta do dispositivo construído por Israel a alguns meses do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Ainda que a palavra papal não tenha o peso da de um Barack Obama, essa esperança continuará sendo uma das frases-chave de sua viagem.

Em compensação, o encontro entre o papa e os cristãos do Oriente constitui um dos pontos fracos da viagem. Sua presença nas diversas missas, em Amã, Jerusalém ou Nazaré, muitas vezes foi ofuscada pela de milhares de peregrinos estrangeiros. O pedido que o papa lhes fez, de serem os vetores de paz e dos "construtores de pontes" pode parecer fora de sincronia em um contexto marcado por uma constante diminuição de seu número no local e das tensões entre as comunidades.

Tradução: Lana Lim

Notícia do Le Monde, reproduzida no UOL.

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