Alvo errado, na hora errada
Alvo errado, na hora errada
BRASÍLIA - Sinceramente, não dá para entender mais nada:
1) Dois sujeitos de terno e gravata estacionam um carro, caminham calmamente até a agência bancária do Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano de Brasília, rendem um general fardado, roubam R$ 8 mil e passam por câmaras de vídeos e barreiras sem serem incomodados. Vexame.
2) Ladrões invadem o 6º Batalhão de Infantaria Leve de Caçapava (SP), prendem um cabo e os soldados e levam embora sete fuzis e 140 cartuchos. Saem como entraram, sem resistência. Outro vexame.
3) E aquele tenente do Rio, o que entregou três jovens para serem trucidados por uma quadrilha de bandidos conhecidos e de alta periculosidade, ainda está pairando sobre consciências e escolas de formação de quadros militares.
Em meio a isso, os "presidenciáveis" Dilma Rousseff e José Serra, dois adversários do regime militar, se reúnem em Brasília para o anúncio do projeto de lei que pretende garantir o acesso a documentos públicos. Um dos objetivos é abrir a documentação do regime militar, trancafiada sabe-se lá exatamente por quem, sabe-se lá exatamente onde. Enquanto o governo cria uma comissão (mais uma!) para procurar os restos mortais de militantes assassinados na ditadura.
Juntando-se tudo isso, é fora de tom, de oportunidade e de hierarquia o general Paulo César de Castro sair justamente do Departamento de Educação e Cultura do Exército para a reserva atirando.
Em resumo, enalteceu a ditadura e o general Médici e condenou "os arautos da sarna marxista" e até as cotas para universidades.
Enquanto eram oficiais de pijama em clubes militares, vá lá. Mas Castro engrossa a lista de generais em transição para a reserva que saem atirando contra os velhos adversários de esquerda que detêm o poder civil hoje e provavelmente deterão amanhã. Melhor seria que mudassem o alvo: falassem menos e cuidassem mais dos seus quartéis.
Texto de Eliane Castanhêde, na Folha de São Paulo, de 14 de maio de 2009.
Normalmente eu discordo de Eliane Castanhêde. Desta vez eu não poderia concordar mais.
Marcadores: ditadura, exército, forças armadas, Golpe de 1964, golpismo, golpistas
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