Igrejas do século XVIII podem ruir em Minas Gerais
Fora da rota turística, igrejas de Minas correm risco de ruir
Má conservação, cupins e infiltrações afetam templos históricos em Congonhas e Mariana
Tombadas pelos patrimônios federal e estadual, igrejas do século 18 estão afastadas do circuito frequentado por visitantes
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CONGONHAS E MARIANA
Longe dos olhos dos turistas, duas igrejas do século 18 em Minas Gerais, tombadas pelos patrimônios estadual e federal e em péssimo estado de conservação, correm o risco de ruir. Uma delas, a de Nossa Senhora da Ajuda, em Congonhas, teve de ser escorada para não cair. Na outra, a de Nossa Senhora do Rosário, em Mariana, nem sequer isso foi feito ainda.
As duas edificações, visitadas pela Folha na semana passada, estão com as estruturas comprometidas e seguem sob ataques de cupins. As duas estão em distritos distantes das sedes das cidades históricas e fora do foco dos visitantes.
Uma amostra de que há tratamento diferenciado ocorreu na quinta-feira. Enquanto a igreja do Rosário, no distrito de Santa Rita Durão, a 37 km da sede de Mariana, clama por urgente intervenção há quatro anos, as autoridades decidiram interditar a igreja de São Francisco de Assis, na sede, apenas 15 dias após o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ter pedido providências.
As duas igrejas de Santa Rita Durão precisam de cuidados urgentes. A do Rosário, entretanto, chama a atenção pelo estado bastante deteriorado da estrutura, com inclinação que acompanha o caimento natural do terreno. Ao andar pelo corredor lateral, percebe-se a instabilidade do piso. A reportagem pôs um copo de vidro deitado no meio do corredor, e ele rolou rapidamente em direção à parede lateral.
O frágil, porém importante exemplar do barroco mineiro, que tem obras de artistas como Francisco Vieira Servas (1720-1811), Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), está inclinando cada vez mais. Tombada desde 1945 pelo Iphan, a igreja já tem recomendação do órgão para ao menos ser escorada até uma solução. O relatório foi passado para a arquidiocese de Mariana, proprietária da edificação, mas nada foi feito.
O Iphan define o problema como recorrente, por causa do solo muito úmido e instável, o que causa a acentuada inclinação na construção de estrutura de madeira com vedação em taipa de pilão e a pau a pique.
A degradação ocorre também pelas infiltrações e cupins, que já atacaram quase todo o entablamento e os portais, além dos elementos artísticos. A pintura do forro está afetada. Há rachaduras e trincas no altar-mor e o altar da lateral direita está cedendo. No lado externo, parte da cimeira caiu.
Em Congonhas, a comunidade do Alto Maranhão está preocupada com a igreja de Nossa Senhora da Ajuda.
O escoramento já foi feito e um projeto de recuperação emergencial acaba de ser aprovado, após intervenção do Ministério Público. Mas não há recursos para as obras.
Fora do lugar
O Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico), que tombou a igreja em 1978, restaura 25 peças do forro da capela-mor, retiradas há dez anos e amontoadas de qualquer jeito na igreja. As peças só poderão voltar ao lugar após as obras estruturais serem feitas.
Sem as obras, as peças do forro do altar continuarão fora do lugar, sujeitas ao desaparecimento, como já ocorreu com as do forro da nave, pintadas por artista desconhecido.
Quase todo o altar principal da igreja também perdeu o douramento original aplicado com folhas de ouro. O motivo: o altar foi lavado com água, provavelmente na ocasião da retirada dos forros da capela-mor. O altar, que está escorado para não cair, está esbranquiçado.
Os problemas estruturais da igreja podem ter como causa as explosões de uma pedreira que fica a 1,5 km dali. Além disso, o tráfego de caminhões pesados a serviço de mineradoras ainda não foi interrompido.
Os caminhões das mineradoras também representam problema para a igreja do Rosário, no distrito de Mariana, mas o tráfego continua liberado.
Notícia da Folha de São Paulo, de 6 de abril de 2009.
Marcadores: história, MInas Gerais, patrimônio cultural, patrimônio histórico
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