quarta-feira, setembro 17, 2008

Terror absoluto

Terror absoluto

RIO DE JANEIRO - Compete em barbarismo e ferocidade com o caso da menina Isabela e o casal Nardoni. Dois garotos, Igor, 12 anos, e João Vitor, 13, foram mortos na última sexta-feira em Ribeirão Pires, Grande São Paulo, asfixiados com sacolas de plástico, de supermercado. Depois tiveram seus corpos embebidos de querosene e incendiados. O que sobrou desses corpos foi esquartejado com uma foice; os pedaços, enfiados em sacos pretos e deixados na rua para os lixeiros, que os descobriram. Os acusados são o pai e a madrasta das crianças.
Apenas isso já seria insuportável. Mas o que mais me abala é que os meninos sabiam que algo lhes aconteceria. O pior terror não vem do mal que se abate sobre nós, mas da consciência de que esse mal virá, e só não sabemos como, nem quando. Segundo o noticiário, há três anos as autoridades de Ribeirão Pires conheciam a situação de Igor e João Vitor, na forma de boletins policiais de ocorrência contra o pai e a madrasta por maus-tratos sobre eles. Depois de mais denúncias de crueldades, os meninos foram mandados em 2007 para um abrigo, onde ficaram nove meses, a salvo de seus algozes.
No começo deste ano, tiveram de deixar o abrigo e voltar para casa. Os maus-tratos continuaram. No meio da semana passada, eles fugiram e, na delegacia, pediram para ser mandados de novo para o abrigo. Estavam com muito medo. Os responsáveis pelo conselho tutelar consideraram o apelo sem fundamento -os meninos não tinham marcas de espancamentos e os maus-tratos foram classificados como "fantasia". A conselheira levou-os pessoalmente para a casa do pai. Dois dias depois, Igor e João Vitor apareceram mortos.
Este é o terror absoluto -quando as pessoas a quem imploramos ajuda nos entregam, por imperícia ou descaso, a nossos assassinos.

Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo, de 10 de setembro de 2008.


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