Líder indígena é assassinado em Pernambuco
De acordo com povo Truká, a impunidade tem sido grande aliada dos assassinos das lideranças indígenas
28/08/2008
Eduardo Sales de LimaDa Redação
Mozeni Araújo, liderança do povo Truká foi assassinado com tiros na cabeça, na cidade de Cabrobó, localizada a 586 quilômetros de Recife (PE), dia 23 de agosto. Mozeni, que era candidato a vereador, estava em frente ao comitê eleitoral separando alguns cartazes de sua candidatura quando, no momento em que contornava o carro de um amigo, foi surpreendido pelo assassino, Maurício Ricardo Alexandre da Silva. Seu filho adolescente, amigos e militantes, estavam presentes no local.
Pretinha Truká, outra liderança do povo indígena, relatou que o “desconhecido” havia adentrado no Comitê da candidatura de Mozeni por volta das 10h da manhã, pedindo auxílio para obtenção de documentos. Às 16h30 ele retornou e executou o indígena.
O pistoleiro afirmou ao delegado local que o motivo do assassinato foi vingança de um conflito de terras, ocorrido em 1999. O povo Truká não acredita nisso. Segundo Pretinha, ninguém da tribo havia presenciado nenhum tipo de discussão entre Mozeni e Maurício na época. “Ao final, esperamos que ele possa confessar quem foi o mandante para nós conhecermos, de fato, quem são nossos inimigos”, enfatiza a indígena.
Os Truká já levantaram algumas hipóteses que poderiam ter motivado o assassinato. Uma delas está relacionada a plantações ilegais de maconha na região. Outra, seria a candidatura de Mozeni a vereador. “Imagina uma liderança indígena como vereador da cidade (Cabrobó)”, comenta Pretinha Truká.
Uma, duas, três mortes..
Mozenir Araújo foi vereador e atualmente era militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e candidato a vereador, com boas chances de se eleger. Também era uma das lideranças na luta pela retomada do território dos Truká, a partir de meados da década de 1990. Desde então, a violência contra o povo indígena foi se intensificando.
Na lista dos agressores, estão fazendeiros, pistoleiros e até policiais militares. Esses últimos estão impunes. Em 30 de junho de 2005, homens à paisana e armados invadiram um galpão onde se realizava uma festa da comunidade, e dispararam contra Adenílson dos Santos, 38, e seu filho Jorge, de 17 anos. Os dois morreram e um outro indígena, de 26 anos, foi baleado. Mozeni era a testemunha principal do caso. “Por várias vezes (Mozeni) denunciou publicamente os criminosos, que até o momento permanecem impunes e ainda estão na ativa”, conta Pretinha.
Reunião dolorosa
Na quarta-feira, dia 27 de agosto, as lideranças indígenas dos Truká realizaram a primeira reunião após o assassinato de Mozeni. “Uma reunião de dor”, lembra Pretinha. A impunidade dos assassinos de 2005 e atual assassinato fez com que os indígenas discutissem uma estratégia própria de segurança, baseada na auto-proteção da tribo. “Quem será amanhã? Vamos pedir proteção à polícia? À Justiça? Decidimos que um deve cuidar do outro”, conta Pretinha sobre o que foi discutido na reunião.
Um Missa de Sétimo Dia será celebrada na Casa de Nossa Rainha dos Anjos no dia 29 de agosto, às 16h. A capela está localizada na Ilha de Assunção, território Truká, no Rio São Francisco. As terras indígenas correspondem a 6.500 hectares, e estão em processo de identificação pela Funai. Segundo o órgão, os Truká terão toda a assessoria jurídica necessária para o caso de Mozeni.
Texto do Brasil de Fato.
Marcadores: assassinato de liderança indígena, crime, crime justiça, justiça
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