Por que esta manga é mais cara?
Você topa pagar um pouco mais por um produto feito sem danos à natureza ou exploração desumana do trabalho, sabendo que sua compra ajuda a desenvolver comunidades pobres? Milhares de consumidores no mundo topam. São a base do dito "comércio justo".
Muito mais conhecido na Europa, o "comércio justo", ou "solidário", ou ainda "ético" é um movimento social e um sistema internacional de comércio, que busca atenuar desigualdades nos países pobres, por meio da venda de produtos feitos em padrões sustentáveis.
No Brasil, produtos com o certificado do comércio justo ainda são raros em supermercados. Mas isso pode mudar a partir desta semana, quando serão lançadas as normas nacionais desse comércio.
Por aqui, o sistema começou a ganhar algum espaço no final dos anos 90 e só se tornou mais estruturado a partir de 2003. A proposta para normatizar o comércio justo no Brasil, que será levada agora, no dia 19, a um encontro internacional sobre o tema, no Rio, dá a ONGs e empresas a competência de certificar produtos, orientadas pelo Inmetro. Ela foi desenvolvida por Senaes (Secretaria Nacional de Economia Solidária), Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e outras entidades da sociedade civil. Surge quase dois anos depois da criação de suas linhas gerais.
"Quando a coisa é muito "democrática", feita a 20 mãos, o processo se arrasta", diz Vanucia Nogueira, 47, superintendente do Centro de Excelência de Café do Sul de Minas, que trabalha com pequenos agricultores na região de Varginha.
Enquanto não vão para as gôndolas daqui, produtos nacionais de comércio justo já certificados internacionalmente são exportados para a Europa, como manga, suco de laranja e café. Essas mercadorias são vendidas pelo "preço justo", isto é, suficiente para que pequenos produtores consigam manter tanto um padrão de vida digno quanto os modos tradicionais de produção.
Um exemplo é o café. Em Minas Gerais, uma saca (60 kg) comum custa por volta de R$ 250, de acordo com o Centro de Excelência de Café do Sul de Minas. Já uma saca da produção "justa" rende ao pequeno produtor R$ 310, quase 25% a mais que o preço de mercado.
Isso é financiado na outra ponta da cadeia, pelo consumidor. A diferença entre o preço comum e o "justo" varia segundo o país e o produto.
Em São Paulo, o Sam's Club vende o café de comércio justo por R$ 7,38 (250 g), 17,6% mais barato que um café gourmet (R$ 8,96). Mas bem mais caro que um café comum (R$ 2,30). Apesar dos preços altos, o mercado ético mundial cresceu a uma taxa anual média de 40% nos últimos cinco anos. Em 2007, cresceu 47% e movimentou 2,3 bilhões de euros, segundo a Fairtrade, entidade que reúne 23 certificadoras internacionais e produtores da América Latina, Ásia e África. As certificadoras atestam para o consumidor que os produtos seguem os padrões do sistema.
"O comércio justo oferece aos consumidores uma poderosa oportunidade para assumir a responsabilidade pelo que compram. Cada vez mais pessoas se preocupam com a procedência da mercadoria e querem saber se os produtores envolvidos obtêm remuneração justa", diz Verónica Sueiro, coordenadora da Fairtrade.
Este texto, original da Folha de São Paulo, foi encontrado no Depósito do Maia.
Marcadores: comércio justo, complexidades, fair trade
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