quarta-feira, maio 14, 2008

60 Anos do Estado de Israel - II

Ao longo de 60 anos, a sociedade israelense viveu três rupturas

De Gilles Paris

No decorrer dos seus 60 anos de existência, a sociedade israelense transformou-se consideravelmente. Hoje, a imigração, que foi inerente ao seu desenvolvimento, está em vias de esgotamento. Israel converteu-se a uma economia de mercado das mais clássicas. Finalmente, as provas das tensões sociais e políticas acabaram sendo fatais para o "homem novo" que deveria acompanhar o crescimento do Estado judaico.

Um país fundado pelas "aliyas" sucessivas
O Estado judeu tinha como objetivo reagrupar em sua terra a maior parte possível da diáspora judaica. Este objetivo dos dirigentes sionistas foi alcançado apenas parcialmente (cerca de 40% dos judeus existentes em todo o mundo vivem atualmente em Israel).
Desde 1948, a imigração sempre foi realizada em ritmo irregular. Ultimamente, ela vem apresentando uma diminuição constante, passando, em 2007, e pela primeira vez ao longo de vinte anos, abaixo da marca de 20.000 chegadas por ano. Esta diminuição pode ser explicada pelo fato de os "reservatórios" que constituíam as diásporas dos países da ex-União Soviética estarem atualmente esgotados, ao passo que as diásporas judaicas mais importantes (Estados Unidos, França) se caracterizam por uma imigração reduzida e muito seletiva. Por exemplo, apenas 2.659 franceses de confissão judaica optaram por se instalar em Israel, em 2007.

O crescimento constante da população (que foi multiplicada por oito no espaço de 60 anos) se baseia daqui para frente numa fecundidade cuja taxa é variável, dependendo dos segmentos de população (entre os ultra-ortodoxos, por exemplo, ela é muito elevada).
Entretanto, esta taxa em nível nacional diminuiu de 3,9 filhos por mulher, durante os anos 1950, para 2,8 em 2005. Como resultado de um efeito de convergência, a taxa de fecundidade na população árabe israelense, que por muito tempo foi uma das mais elevadas do mundo, diminuiu da mesma forma, até se estabilizar em 4 filhos por mulher a partir de 2005.

Uma nação impregnada pelo coletivismo
Caracterizado, desde a sua origem, pelo funcionamento dos "kibutz" e pela parte importante da sua atividade dedicada à agricultura, Israel foi se convertendo progressivamente à economia de mercado. Neste processo, o Estado e a principal central sindical, a Histadrout, que eram inicialmente instituições essenciais para o seu funcionamento, foram se desengajando em relação à economia.

No decorrer dos últimos anos, a parte das despesas públicas não parou de diminuir, uma tendência que também se repercutiu nas despesas sociais. Daqui para frente, a economia israelense está fortemente integrada à economia mundial. Aliás, os investimentos estrangeiros no país alcançaram o valor total recorde de US$ 14,3 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões) em 2006.
Esta economia se caracteriza atualmente por um forte crescimento (de 5,3% em 2007), enquanto a taxa de desemprego subiu em 2008 para 7,3%. O crescimento israelense tem sido dinamizado, entre outros, pelo setor das novas tecnologias (mais de 10% do PIB), o qual passou a ocupar o lugar que havia sido atribuído, 60 anos atrás, à agricultura. Esta liberalização também gerou o seu lado negativo: praticamente um quarto (24,7%) da população israelense é considerada atualmente como pobre. A pobreza aumentou em 20,3% desde 2002.

Um "homem novo" ancorado no seu território
Com a sua atuação decisiva no contexto do desenvolvimento do Estado, e o seu status diferenciado em relação à diáspora, o "sabra" encarna o israelense ideal, ao mesmo tempo agricultor, combatente e laico. A grande massa dos sabras constitui a coluna vertebral do Mapai, o ancestral do Partido Trabalhista, que monopoliza o poder. Este modelo vai se esgotando, depois dos questionamentos sucessivos do modelo de integração privilegiado, a partir dos anos 1930 até os anos 1960; e em conseqüência da contestação "sefardi", que encontra uma tradução política em 1977 com a vitória do Likoud, que introduziu a primeira alternância política em Israel.

Durante os anos 1970, depois da conquista militar da Cisjordânia e de Gaza, o movimento da colonização consegue reencarnar, nos territórios palestinos, o espírito pioneiro e o ideal de "nova fronteira". O processo de paz de Oslo, a partir de 1993, passou a questionar o modelo encarnado pelos colonos. Além disso, a retirada unilateral de Gaza, em 2005, que evidenciou a marginalização deste movimento no âmbito da sociedade israelense, desferiu um golpe fatal neste ideal.

Paralelamente aos conflitos que se sucederam no decorrer da sua história, a conversão por necessidade, ou forçada, de Israel ao pragmatismo contribuiu para a sua perenidade.

Tradução: Jean-Yves de Neufville
Texto do Le Monde, no UOL .

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