Religião?
Em que medida o sr. compartilha a percepção de Walter Benjamin de que o capitalismo é uma religião?
Em O Capital, Marx comparava o capitalismo a uma religião. As mercadorias são percebidas como ídolos, que têm vida própria e decidem o destino dos homens. Esse argumento foi utilizado pelos teólogos da libertação, como Hugo Assmann, Franz Hinkelammert, Jung Mo Sung, para desenvolver uma crítica radical do capitalismo como religião idólatra. A teologia do mercado, de Thomas Malthus ao último documento do Banco Mundial, é ferozmente sacrificial: exige que os pobres ofereçam suas vidas no altar dos ídolos econômicos. Walter Benjamin, ao escrever sobre isso em 1921, não havia lido O Capital. Ele se inspira no sociólogo Max Weber para analisar o caráter cultual do sistema. Na religião capitalista, a cada dia se vê a mobilização do sagrado, seja nos rituais na Bolsa, seja nas empresas, enquanto os adoradores seguem com angústia e extrema tensão a subida ou a descida das cotações. As práticas capitalistas não conhecem pausa, dominam a vida dos indivíduos da manhã à noite, da primavera ao inverno, do berço ao túmulo.
Trecho de entrevista do sociólogo Michael Löwy ao jornal O Estado de São Paulo, de 13 de janeiro de 2008, vista no Diário Gauche.
Marcadores: capitalismo, idolatria, materialismo, religião
2 Comments:
Religião é algo imaterial e o capitalismo é material, é o que está ai. Definitivamente, capitalismo (e eu não sou capitalista) não é religião. Como nos ensina Luc Ferry, que esteve em POA em 2007, o materialismo histórico esse sim se transformou num idealismo determinista, numa religião sem deus.
A questão é que capitalismo pode se tornar um substituto para a religião, mas sem consciência disso, afinal não há ideólogos do capitalismo no sentido que há teólogos nas religiões, ou na forma como alguns pensadores de esquerda falam do materialismo dialético.
Compre para tentar preencher o seu vazio espiritual seria o mantra dos ideólogos do capitalismo, se eles existissem.
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