Magistério em "Estado de Greve"
Professores da rede estadual do Rio Grande do Sul, depois de uma assembléia no Gigantinho, na última sexta-feira, declararam-se em 'estado de greve'. É um alerta. Velha questão. Dificilmente se encontrará categoria mais maltratada historicamente que a dos professores do ensino público fundamental e médio. Talvez esse seja o maior paradoxo da sociedade brasileira, sem que os gaúchos possam se orgulhar de fazer diferente: homens e mulheres responsáveis pela formação dos cidadãos do futuro vivem condenados a salários miseráveis e a condições de trabalho no limite do deplorável. Basta dizer que os professores reivindicam um piso salarial de R$ 468,00. É nada. Quem pode comprar um bom livro ou ir ao cinema ganhando uma fortuna dessas? Como ter cultura para dar cultura? Mesmo que existam faixas salariais e ganhos diferenciados conforme o plano de carreira, a situação é dramática.
Claro que os professores dos filhos da turma dos camarotes - a elite de cada cidade e Estado - não ganham tão pouco em escolas privadas. Os governantes aplicam sempre o mesmo discurso que mescla incompetência, impotência e hipocrisia: o Estado não tem recursos para pagar melhor os seus docentes. Esse pragmatismo de ocasião encobre uma verdade que ultrapassa todos os governos: a sociedade não parece muito interessada em colocar o ensino público básico como prioridade. Aplica-se, então, a política educacional popularmente conhecida como 'empurrar com a barriga'. Parte da mídia, normalmente conservadora, sempre que há uma greve do magistério compra os argumentos do poder e entra no jogo do 'não prejudiquem os nossos filhos com a interrupção das aulas'. As más línguas juram que a recompensa vem com muita publicidade oficial.
O dilema dos professores é que eles são muitos e destinados a tarefas irrisórias como alfabetizar as crianças e ajudar a incutir-lhes bons valores e conhecimentos. Nada que mereça um salário muito melhor ou uma reorganização radical das prioridades sociais de maneira a oferecer-lhes um novo padrão de vida. A secretária de Educação, Mariza Abreu, teve uma idéia genial: recriar as chamadas classes multisseriadas e aumentar o número de alunos em sala de aula para até 50. Significa, na prática, ter alunos de várias séries numa mesma sala. É uma maneira extraordinária de resolver o problema da falta de professores. A isso certamente se chama reengenharia pedagógica. Ou aviltamento do ensino. Graças a esse malabarismo, o Rio Grande do Sul poderá reencontrar a sua tradição de celeiro do Brasil e transformar-se numa imensa escola rural, com um professor polivalente e muito bem pago enfrentando estudantes de idades e níveis de conhecimento muito diferentes. Em março, num almoço, a secretária perguntou ao ex-ministro francês da Educação Luc Ferry, o que ele achava das classes multisseriadas. O filósofo respondeu que era algo praticado no seu país, quando ele era criança, nas escolas rurais com pequeno número de alunos e grande carência de professores.
Por fim, afirmou que isso, no seu entender, era pedagogicamente ultrapassado. Aposto que a secretária quer o melhor para o Rio Grande do Sul. O melhor significa pagar salários decentes aos professores. Eu nunca vi um grupo de empresários, liderados pela OAB de algum Estado, bancar uma campanha chamada 'cansei da penúria dos professores'.
Marcadores: direito ao trabalho, funcionalismo público, Governo Yeda, magistério
4 Comments:
Piso de R$ 460,00. Francamente. Impossível um Estado dar uma educação decente nessas condições. Enquanto isso, os Juízes, os Promotores, os Procuradores, os Delegados querem um piso de R$ 17,000,00 que a Yeda não quer dar ( e nem deve dar). E o pessoal da esquerda silencia.
Na verdade eu não sabia disto.
Pobres juízes, promotores, procuradores e delegados. Como conseguem viver com os proventos atuais?
Mas eu lembro que quando o Governo Olívio quis dar reajustes diferenciados para a base do funcionalismo, houve grande grita, em especial dos delegados.
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Ok.
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