quinta-feira, fevereiro 22, 2007

"Nuestra Cuba"

A revista Aventuras na História, da editora Abril, do mês de fevereiro de 2007 (MIRANDA, Celso. Cuba sem Fidel. In: Aventuras na História, Edição 42, Fevereiro 2007) , traz uma interessante reportagem sobre Cuba. O texto traz alentadas informações sobre a ilha. Contudo possui uma falha, e passa ao largo de um posicionamento crítico.
A grande falha do livro é falar da independência de Cuba, e não haver uma citação sequer a respeito de José Martí, o herói da independência cubana. José Martí foi poeta e escritor, e participou ativamente da luta pela independência da ilha. Além disso, a guerrilha pela libertação de Cuba continuou existindo após sua morte, e só foi desmobilizada depois que os Estados Unidos declararam guerra à Espanha, e esta perdeu para os Estados Unidos suas últimas colônias americanas, bem como os arquipélagos das Filipinas e de Guam, no Pacífico. Ao fim da guerra, os Estados Unidos ficaram com Porto Rico como colônia (embora Porto Rico seja eufemisticamente chamado pelos Estados Unidos de "estado soberano associado"), e Cuba como protetorado. Isto significa que os Estados Unidos ocuparam a ilha de 1898 a 1902, e só saíram quando foi aprovado um artigo na constituição cubana que permitia a intervenção das forças armadas estadunidenses em Cuba, sempre que os Estados Unidos achassem que os interesses estadunidenses estivessem em risco. Foi a chamada "emenda Platt".
E aqui vem a questão da falta de posicionamento crítico. Logo após o título principal, há um texto em destaque que diz o seguinte: "Antes de ele chegar ao poder em 1959, Cuba parecia destinada a ser uma ilha perdida no meio do Caribe. Com ele, o país se tornou socialista, dividindo opiniões mundo afora. (...)." Também há citações de um professor universitário estadunidense, Richard Pells, a respeito do processo de independência cubano e da intervenção norte-americana: "Quando estourou a guerra pela independência, os Estados Unidos já eram a grande potência do continente. Haviam expulsado os ingleses, e negociado a retirada de franceses e russos da América e não admitiriam mais a intervenção de um império europeu tão perto de seu território." Das duas uma. Ou o redator não percebeu o papel imperial dos Estados Unidos na América Central e Caribe ao longo do século XX, e embora cite o papel dos Estados Unidos em Cuba e em Porto Rico, se esquece das ocupações feitas no Haiti (1915-1934), na República Dominicana (1916-1924), ou o envolvimento da CIA nos golpe de estado contra Jacobo Arbenz, em 1954. Ou adaptando a frase do professor Pells, talvez pudéssemos dizer que os Estados Unidos já eram a grande potência do continente, e não admitiriam a intervenção de um império europeu tão perto do seu território, pois já atuava como um império na América Central.
Ou simplesmente o redator teve uma atitude etnocêntrica, pois afinal vive em um país continental (o Brasil), e normalmente cidadãos de países de dimensões continentais tendem a ver a sua realidade nacional como a mais importante do mundo. Acho que foi isso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quis dizer quando disse que o "brasileiro é caipira". Esta é uma explicação possível para Cuba ser taxa de "uma ilha perdida no meio do Caribe".
Mas o texto vale a pena. Comenta como Cuba serviu de depósito para o contrabando de bebidas alcoólicas durante a lei seca nos Estados Unidos, nos anos 1920. Cita a fortuna gerada pelos cassinos dominados pela máfia antes da revolução castrista. E mostra como a Revolução "comeu" alguns de seus protagonistas mais importantes durante a sua consolidação. Além disso, entre o texto principal da reportagem há alguns pequenos testemunhos de cidadãos cubanos atuais, e suas perspectivas diante do momento de transição por que passa a ilha, desde a enfermidade de Fidel.
A propósito, acredito que seja por isto que o texto esqueceu de Martí, ou do imperialismo norte-americano. o texto está muito centrado no papel de Fidel, e da Revolução de 1959. Chega às minúcias de falar do pai de Fidel, e de sua chegada à ilha, no final do século XIX.
Os comentários aqui feito não são para desmerecer o texto. O artigo é bom, e traz ao seu leitor mais conhecimento da realidade de Cuba, tentando conectar o passado ao presente.

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Boa dica, Zé.

4:24 PM  
Blogger José Elesbán said...

Valeu a força!
:)

11:53 PM  

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