terça-feira, setembro 21, 2010

Pronto para brilhar?

Pronto para brilhar?

Hoje é o bicentenário da Revolução Mexicana. Duzentos anos atrás, em 16 de setembro de 1810, na aldeia de Dolores, Estado de Guanajuanato, o padre local, Miguel de Hidalgo, lançou seu famoso "grito de la independencia", que mobilizou a população indígena e mestiça pobre da mais importante colônia espanhola do Novo Mundo em um levante contra a elite branca dominante, formada por descendentes de espanhóis.
A revolta não demorou a ser reprimida. Hidalgo foi capturado e executado. Sua cabeça decepada foi colocada em exibição, pendurada num paiol de grãos em Guanajuanato, onde centenas de pessoas que procuravam refúgio contra os rebeldes de Hidalgo haviam sido massacradas.
A independência do México só foi obtida em 1821. E, mesmo assim, a estabilidade se provou difícil de conquistar.
Daqui a algumas semanas, o México celebrará o centenário da revolução de 1910, outro sangrento período de conflitos e guerra civil. Quanto a isso, a história mexicana oferece forte contraste com a do Brasil.
A chegada do príncipe regente, de sua mãe louca e da família real à Bahia, no final de 1807, seguida pelo estabelecimento da corte portuguesa no Rio de Janeiro, um ano mais tarde, deu continuidade e estabilidade ao Brasil, evitou disputas quanto à legitimidade e salvou o país dos sangrentos tumultos e dos conflitos étnicos e sociais que caracterizaram com tamanha intensidade as primeiras décadas de independência da América espanhola.
É curioso, portanto, que, neste momento de celebração, o ex-ministro do Exterior mexicano Jorge Castañeda, agora professor da Universidade de Nova York, tenha publicado um artigo na edição de setembro/outubro da revista "Foreign Affairs" no qual afirma que o Brasil (bem como China, Índia e África do Sul) não estão "prontos para brilhar".
Ele argumenta que "colocar potências emergentes no leme pode prejudicar a governança mundial".
Castañeda critica o Brasil por não respeitar os direitos humanos em sua política externa. Menciona a posição brasileira quanto a Cuba e Venezuela. Alega que o Brasil "não merece confiança no que tange à não proliferação nuclear". Acrescenta que "há quem especule que o Brasil esteja preparando as bases para retomar o seu programa nuclear". Afirma que há contradições na abordagem do Brasil quanto à poluição.
A política externa não teve papel importante nesta campanha presidencial. Mas essas declarações apontam para alguns dos dilemas reais que o novo governo brasileiro precisará enfrentar no ano que vem.

Texto de KENNETH MAXWELL, Tradução de PAULO MIGLIACCI, publicado na Folha de São Paulo, de 16 de setembro de 2010.

Curiosamente o texto me parece bastante inconclusivo. Quando introduz as colocações de Castañeda no texto, eu imaginei que Maxwell iria contestá-las ou, talvez, confirmá-las, mas ele evita qualquer posição e termina abruptamente com uma frase anódina sobre a política externa do presidente a ser eleito em outubro.

É difícil querer mensurar a violência aos grupos sociais. Talvez devamos medir pela quantidade de gente morta ou mutilada? Nesse caso o desenvolvimento histórico do Brasil talvez não seja tão violento quanto o do México, mas certamente houve crises e rupturas por aqui, inclusive durante o processo de independência política.


Marcadores: , , , ,