terça-feira, janeiro 05, 2010

Acidentes aéreos

INVESTIGAÇÃO

"Falhas mecânicas causaram acidentes aéreos"

Assessorado por uma equipe cujas investigações já renderam indenizações milionárias a famílias de vítimas de acidentes aéreos, o advogado americano Steven Marks, do escritório Podhurst Orseck, diz estar convicto de que falhas mecânicas levaram aos dois últimos casos de repercussão nacional: o do voo 3054, da TAM, em Congonhas em 2007, e o do voo 447, da Air France, que caiu no Atlântico em 2009. Contratado por parentes de vítimas do voo 447, ele recebeu a repórter Denise Menchen no escritório BPGM Advogados, no Rio, ao qual está associado neste caso.


FOLHA - Qual sua conclusão sobre o acidente da Air France?
STEVEN MARKS - Não há nada conclusivo ainda. Mas estamos certos de que houve algum tipo de problema mecânico catastrófico. Antes da queda, foram enviadas muitas mensagens de alerta. Foi um problema em cascata que estava impedindo a aeronave de voar. As informações de que dispomos até agora indicam que foi um problema de fabricação. Os pilotos não fizeram nada para induzir isso.

FOLHA - O senhor atuou também na defesa de parentes das vítimas da TAM em 2007. A Aeronáutica concluiu as investigações sem apontar de quem foi a culpa. Como avalia esse resultado?
MARKS - As autoridades brasileiras não chegaram nem perto de ter as informações que temos. Um ano antes do acidente da TAM, houve um acidente na Rússia, com a Sibir Airways.
Foi quase uma imagem espelhada do que aconteceu aqui. Os pilotos estavam se aproximando, [a pista] era pequena, estava molhada, e eles tinham um reverso inoperante. Os pilotos, e essa é uma reação natural, quando viram que não iam parar a tempo, acionaram o reverso. Mas, no que não estava funcionando, houve um impulso para a frente e, no que estava funcionando, um impulso reverso, o que fez a aeronave sair da pista. E a Airbus sabia que tinha problemas com o reverso. Mas não alertou os operadores sobre os perigos.

FOLHA - As autoridades brasileiras dizem que pode ter havido erro dos pilotos...
MARKS - Os manetes do reverso são conectados, escravos. Você move um e ambos vão para frente ou para trás. Mas, quando você percebe que está na pista e não vai ter tempo para parar, você tem tempo para desunir os manetes. A Airbus nem mesmo treinou os pilotos para fazer isso. O fabricante sabia há anos desse perigo e não fez nada. Os pilotos estavam lidando com uma situação de emergência, tomando decisões em frações de segundos.

FOLHA - E os aviões continuam voando nessas condições?
MARKS - Não depois da TAM. A Airbus lançou um novo sistema que automaticamente desengata os manetes e previne esse problema. Eles já tinham isso à disposição. Só não usaram.


Trecho da coluna da Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, de 2 de janeiro de 2010.

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