quinta-feira, novembro 05, 2009

PMDB não se explica, nem se justifica

Há tempos que o maior palco da política gaúcha só apresentava espetáculos lamentáveis cujo exemplo mais acabado foi a votação do impeachment de Yeda. Naquele dia, a base governista – leia-se PSDB, PMDB, PP, PPS e PTB - foi acusada de servilismo e conivência e, nem assim, reagiu. O negócio era salvar a pele da governadora a qualquer custo. A tática adotada foi discutir o menos possível para que se pudesse chegar logo à votação onde a patrola da maioria livraria Yeda de um processo de impedimento. Deu certo. Mas custou caro. A partir daquele momento fortaleceu-se a idéia da covardia de um bloco que sequer subiu à tribuna para dizer porque estava absolvendo Yeda antes mesmo de investigá-la. E quando havia uma montanha de indícios a gritar pelo movimento contrário.

Naquele dia, nem mesmo a acusação de cumplicidade feita pelo líder da bancada do PT, Elvino Bohn Gass, fez com que os yedistas mudassem de tática. Mas na sessão de ontem, ao direcionar o ataque ao PMDB sugerindo que o partido estava boicotando a CPI da Corrupção porque tinha medo de Yeda (a governadora disse numa entrevista que não cairia sozinha), Bohn Gass provocou, enfim, uma reação dos correligionários de Simon, Rigotto e Fogaça.

Gilberto Capoani, vice-presidente da CPI, um dos mais faltosos naquela comissão, foi à tribuna e, sem justificar suas ausências, preferiu fazer acusações ao PT dizendo que o partido não tem moral para acusar ninguém. Bohn Gass voltou então à tribuna e deu nome aos bois. Citou Eliseu Padilha, Alceu Moreira e Marco Alba lembrando que eles são suspeitos de participarem das fraudes que foram descobertas pela Operação Solidária e deveriam ir à CPI para dar explicações. Foi a deixa para que Moreira, que aparece nas gravações da Solidária usando expressões suspeitíssimas como “e aí, vai matar a minha saudade?” ou “tem que chover na minha horta”, resolvesse também entrar no debate. Ele reclamou da interpretação que tem sido dada aos diálogos que manteve com empreiteiros e invocou o benefício da presunção de inocência.

A coisa esquentou e Stela Farias (PT), presidente da CPI, tomou a palavra para reclamar do boicote governista e mencionar alguns codinomes usados pelos investigados que fariam referência a deputados, caso de Tico-Botico. Mais tarde, o próprio Moreira confirmaria a Stela que Tico-Botico era um apelido de seus tempos de pescaria…

Mas o clima permaneceu tenso e hoje os debates entre PT e PMDB foram retomados. Adão Villaverde (PT) subiu à tribuna para sustentar que o PMDB vive uma crise de postura, em nada lembrando o “velho MDB” que ajudou a derrotar a ditadura. Villaverde disse que “há um real dilema que os dirigentes peemedebistas teimam em não enxergar: com seus conflitos internos, desencontros de posições (Rigotto diz que não quer ser governador de jeito nenhum, Fogaça diz que tem compromisso com os portoalegrenses), contradições (caso de Simon que mantém o discurso da ética em nível nacional mas faz vistas grossas à bandalha que acontece no RS) e posturas retrógradas (como a adotada na votação do impeachment) vive uma situação de crise que sequer lhe permite ser um grande ponto de encontro para seus próprios quadros históricos. E, acima de tudo, o impossibilita de ser vertebrador de qualquer projeto de retomada do crescimento e desenvolvimento do RS, de buscar a recuperação das funções públicas de Estado e de resgate ético-moral da tradição política que sempre honrou o solo gaúcho.”

Foi demais para o deputado Nelson Härter, outro peemedebista que resolveu entrar no embate. Mas foram de tal forma contraditórios os argumentos de Härter que aquilo que se avizinhava como um bom debate político entre os partidos com mais chances de chegar ao Piratini na eleição do ano que vem, acabou de forma lamentável, reduzido a uma troca de acusações. Para tentar atingir o PT, Härter lembrou o episódio que ficou conhecido como mensalão e disse que grave mesmo era o que estava ocorrendo em nível nacional onde gente como Renan Calheiros, Jader Barbalho e José Sarney estavam apoiando o governo Lula. Só para que não passe em branco: no chamado mensalão havia dúzias de peemedebistas e Renan, Jader e Sarney são lideranças nacionais sim, mas do partido de Härter. (Maneco)

Texto reproduzido do RS Urgente.

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