Médicos e laboratórios vetam automedicação com antiviral
Médicos e laboratórios vetam automedicação com Tamiflu
Roche, que produz o antiviral, vai direcionar estoque ao Ministério da Saúde e à OMS
Procura cresce em São Paulo e no Rio, mas uso preventivo pode deixar vírus resistente; especialistas recomendam buscar atendimento médico
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPOS DO JORDÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enquanto farmácias de São Paulo e do Rio viram alvo de uma corrida pelos antivirais Tamiflu (Roche) e Relenza (GSK), médicos, autoridades sanitárias e até os fabricantes dos remédios alertam que pacientes temerosos da gripe suína não devem se medicar por conta própria contra o vírus.
Para o presidente da Associação Panamericana de Infectologia, Sergio Cimerman, o governo brasileiro deve retirar imediatamente do mercado o Tamiflu para evitar a automedicação. Segundo o infectologista, o uso indiscriminado do remédio -vendido sob prescrição médica- pode tornar o vírus resistente a ele.
"Se todo mundo tomar [Tamiflu], cria-se uma resistência natural na população [ao remédio], e você não vai ter mais uma droga eficaz para tratar os doentes quando for realmente preciso", diz Cimerman, que participa do 14º Congresso Panamericano de Infectologia, em Campos do Jordão. "O governo tem que tirar [o remédio do mercado] e pôr em hospitais que serão eventuais centros de atendimento da doença."
A prudência recomendada pelo médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, tem eco na própria Roche, a fabricante do Tamiflu.
Quem não tem relação com os países em que a doença foi confirmada (México, EUA, Canadá, Espanha, Nova Zelândia, Reino Unido e Israel) não deve tomar o remédio, pois estaria "gastando uma arma à toa", diz Karina Fontão, diretora médica do laboratório farmacêutico.
Ela recomenda que as pessoas que apresentem os sintomas da gripe suína e estiveram em áreas afetadas ou mantiveram contato com quem veio dessas regiões procurem imediatamente os centros de referência para a gripe suína. Fontão reforça que o antiviral deve ser usado em até 48 horas do início dos sintomas.
Procura
Segundo a diretora médica da Roche, a procura por informação via call center da empresa dobrou -foram 500 pessoas só na segunda e na terça-feira.
Atendentes de 12 farmácias consultados pela Folha em São Paulo e no Rio relataram um salto na solicitação do remédio. "De cada 10 ligações que tivemos, 9 foram para fazer pedidos de Tamiflu", diz Simone Conquista, farmacêutica da Droga Express, no Morumbi.
O gerente de outra farmácia em São Paulo, que não quis se identificar, relatou que a venda saltou de "poucos vidros por mês" para 30 frascos só ontem. Em cinco unidades dessa rede o produto havia acabado.
No Rio, nenhuma das quatro farmácias procuradas pela Folha tinha o Tamiflu, que custa em torno de R$ 80 (versão pediátrica) e R$ 160 (a adulta).
Fontão, da Roche, informou que tão logo os estoques atuais se esgotem nas farmácias, a compra não será mais possível, pois o laboratório direcionou sua produção para uso do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde.
O ministério tem hoje 9 milhões de doses estocadas na forma de princípio ativo. Para uso imediato, deve receber 12,5 mil doses nos próximos dias.
A Roche informou que tem 3 milhões de doses à disposição da OMS e capacidade de produzir até 400 milhões por ano. A GSK, que produz o Relenza, afirmou que está ampliando a produção do medicamento para uso da OMS e de governos.
O Tamiflu é o único antiviral que será utilizado pelo Ministério da Saúde em casos suspeitos de gripe suína. Segundo a Roche, ainda não há testes clínicos que apontem eficácia do medicamento para a gripe em questão, mas experimentos laboratoriais mostraram que ele deve ser eficiente, como foi para a Influenza aviária. (FÁBIO AMATO, JOHANNA NUBLAT E MAURÍCIO MORAES)
Texto da Folha de São Paulo, de 29 de abril de 2009.
Marcadores: gripe, gripe suína, indústria farmacêutica
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