sexta-feira, abril 17, 2009

Netanyahu assume hoje, em guinada à direita

Netanyahu assume hoje, em guinada à direita

DO "FINANCIAL TIMES"

Binyamin Netanyahu fará hoje o juramento como premiê de Israel, marcando uma guinada à direita, para um governo de "falcões" justamente enquanto o país encara crescentes críticas internacionais.
Primeiro-ministro entre 1996 e 1999, o líder do Likud (direita) governará com uma ampla coalizão, que inclui o ultradireitista Israel Beitenu, o centro-esquerdista Trabalhista e o ortodoxo Shas. O governo deverá englobar seis partidos, com propostas opostas em temas como política externa.
Mesmo no Likud, Netanyahu enfrenta disputa pelos oito cargos ministeriais destinados ao partido. Ele deve acumular a pasta das Finanças, a única das mais relevantes ainda não oferecida a seus colegas da coalizão -o Israel Beitenu ficará com a Chancelaria e os trabalhistas, com a Defesa.
Ontem, ele voltou a falar em negociações de paz, como parte de um amplo esforço para conter a preocupação internacional quanto a seu futuro governo, tido como bem menos entusiasta de um acordo com os palestinos que o atual.
"Meu governo fará o que puder para chegar a uma justa e duradoura paz com nossos vizinhos e todo o mundo árabe."
Netanyahu refuta o conceito de um Estado palestino independente -alicerce dos esforços diplomáticos desde os Acordos de Oslo (1993). Ele defende a ideia de atingir a paz fortalecendo a economia palestina e não concedendo terras.
Além das dificuldades internacionais causadas pelas denúncias de abuso na recente investida militar em Gaza, o mundo árabe repudiou a indicação de Avigdor Liberman, líder do Israel Beitenu e conhecido por seus arroubos antiárabes, como chanceler.
A inclusão dos trabalhistas na coalizão arrefeceu o temor de Netanyahu depender demais da direita. Mas, a despeito da manutenção do ex-premiê Ehud Barak como ministro da Defesa, não está claro se os trabalhistas, com 5 das 30 cadeiras no gabinete, contrabalançarão a influência da direita.


Texto da Folha de São Paulo, de 31 de março de 2009.


Comentário do blogueiro:


Há algumas coisas a serem ditas, ou que parecem evidentes, neste novo gabinete que entra para governar Israel.

A primeira é uma pergunta: O que faz o Partido Trabalhista no meio desta coalizão de direita? Se o Kadima que é o partido composto em sua maioria por antigos membros do Likud que chegaram à conclusão que é impossível manter a ocupação dos territórios palestinos nos termos em que estes vêm sendo ocupados desde o início desta década, e o líder do novo gabinete acha que este modelo de ocupação e usurpação da terra palestina precisa ser incrementado, os trabalhistas certamente não se encaixam nesta coalizão.

O terceiro parágrafo informa que “Netanyahu refuta o conceito de um Estado palestino independente -alicerce dos esforços diplomáticos desde os Acordos de Oslo (1993). Ele defende a ideia de atingir a paz fortalecendo a economia palestina e não concedendo terras.” Ou Netanyahu vai criar um novo conceito político através de mágica, ou ele pretende criar desenvolvimento e conforto material para os palestinos enquanto os aliena do direito de cidadania (os mais básicos: ir e vir sem ser importunado, votar e ser votado, …). Nada de novo aí, pois o Likud nunca chegou a reconhecer o direito à existência de um Estado Palestino. Mas me parece que ele vai acabar por ter que incorporar a população palestina dos território ocupados à cidadania de Israel. Mas neste caso, Israel deixará de ser um estado judeu.

Ou, talvez, com base nas premissas do outro partido da coalizão, o Israel Beitenu, o gabinete planeje uma “limpeza étnica” dos palestinos, ou seja, tomar definitivamente toda a Cisjordânia, e expulsar os 2,5 milhões de palestinos que ali vivem. Israel continuará um estado formalmente democrático se fizer isso? E como o resto do mundo olhará Israel?

Por fim, uma coisa prosaica. Conforme notícia do portal G1, este é o maior gabinete que já chegou a tomar posse do governo em Israel, com 30 ministros e 6 ou 8 (o G1 informa os dois números) vice-ministros. Muitos brasileiros gostam de dizer o o governo Lula tem ministérios demais. E talvez tenha mesmo, mas o que o move a isso é a necessidade política de oferecer cargos aos partidos que venham a fazer parte de sua base no Congresso. É o mesmo princípio, no nosso regime presidencialista, de composição de governos parlamentaristas, como é o caso de Israel. 30 ministros e 6 vice-ministros. É mais que o dobro de vítimas israelenses no recente ataque de Israel à Faixa de Gaza (13).

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