Obama não deve esquecer crimes de Bush
Eleito não deve esquecer crimes de Bush
Lamento, mas, se não houver investigação sobre o que aconteceu ao longo dos anos Bush -e quase todo mundo entendeu a declaração de Obama como sinal de que isso não acontecerá-, aqueles que detêm o poder de fato estarão acima da lei, porque não terão de enfrentar quaisquer consequências caso decidam abusar dele. Vamos esclarecer do que falamos. Não se trata somente de tortura e escutas ilegais -cujos perpetradores alegam, ainda que de modo muito implausível, terem agido como patriotas. Os abusos do governo Bush se estenderam da política ambiental ao direito de voto.
No Departamento da Justiça, os funcionários apontados para seus cargos por políticos eleitos reservaram outros postos, não políticos, a "americanos bem pensantes", e existem fortes indícios de que esses funcionários empregaram suas posições para solapar a proteção ao direito de voto das minorias. Durante a ocupação do Iraque, os candidatos aos postos eram julgados com base em suas posições políticas, em sua lealdade pessoal ao presidente e em sua posição sobre o aborto. Falando no Iraque, não devemos esquecer do fracassado esforço de reconstrução do país: o governo Bush entregou bilhões de dólares a empresas bem relacionadas politicamente, em contratos sem concorrência, e essas empresas não realizaram o trabalho.
Há muito, muito mais. Ao menos seis grandes agências do governo passaram por grandes escândalos nos últimos oito anos -na maioria dos casos, jamais investigados. E temos também o maior de todos os escândalos: Alguém tem dúvidas de que o governo Bush deliberadamente iludiu o país para justificar a invasão do Iraque? Por que, então, não deveria haver investigação oficial sobre os abusos dos anos Bush? Uma resposta usual é que buscar a verdade exacerbaria o antagonismo entre os partidos.
Mas, se partidarismo político é algo tão horrível, o governo Bush não deveria ser punido por politizar todos o aspectos do governo? Há quem diga que não é preciso dedicar atenção aos abusos passados porque eles não serão repetidos. Mas nenhuma figura importante do governo Bush expressou arrependimento por violar a lei. O que levaria alguém a pensar que eles ou seus herdeiros políticos não agiriam da mesma maneira, caso tenham nova oportunidade? Embora esquecer e perdoar provavelmente seja uma boa idéia política a curto prazo, na semana que vem Obama estará jurando "preservar, proteger e defender a Constituição dos EUA". Não se trata de um juramento a ser honrado apenas quando conveniente.
E, para proteger e defender a Constituição, um presidente precisa fazer mais do que simplesmente obedecê-la; precisa responsabilizar aqueles que a tenham violado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto de Paul Krugmann, na Folha de São Paulo, de 17 de janeiro de 2009.
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Lamento, mas, se não houver investigação sobre o que aconteceu ao longo dos anos Bush -e quase todo mundo entendeu a declaração de Obama como sinal de que isso não acontecerá-, aqueles que detêm o poder de fato estarão acima da lei, porque não terão de enfrentar quaisquer consequências caso decidam abusar dele. Vamos esclarecer do que falamos. Não se trata somente de tortura e escutas ilegais -cujos perpetradores alegam, ainda que de modo muito implausível, terem agido como patriotas. Os abusos do governo Bush se estenderam da política ambiental ao direito de voto.
No Departamento da Justiça, os funcionários apontados para seus cargos por políticos eleitos reservaram outros postos, não políticos, a "americanos bem pensantes", e existem fortes indícios de que esses funcionários empregaram suas posições para solapar a proteção ao direito de voto das minorias. Durante a ocupação do Iraque, os candidatos aos postos eram julgados com base em suas posições políticas, em sua lealdade pessoal ao presidente e em sua posição sobre o aborto. Falando no Iraque, não devemos esquecer do fracassado esforço de reconstrução do país: o governo Bush entregou bilhões de dólares a empresas bem relacionadas politicamente, em contratos sem concorrência, e essas empresas não realizaram o trabalho.
Há muito, muito mais. Ao menos seis grandes agências do governo passaram por grandes escândalos nos últimos oito anos -na maioria dos casos, jamais investigados. E temos também o maior de todos os escândalos: Alguém tem dúvidas de que o governo Bush deliberadamente iludiu o país para justificar a invasão do Iraque? Por que, então, não deveria haver investigação oficial sobre os abusos dos anos Bush? Uma resposta usual é que buscar a verdade exacerbaria o antagonismo entre os partidos.
Mas, se partidarismo político é algo tão horrível, o governo Bush não deveria ser punido por politizar todos o aspectos do governo? Há quem diga que não é preciso dedicar atenção aos abusos passados porque eles não serão repetidos. Mas nenhuma figura importante do governo Bush expressou arrependimento por violar a lei. O que levaria alguém a pensar que eles ou seus herdeiros políticos não agiriam da mesma maneira, caso tenham nova oportunidade? Embora esquecer e perdoar provavelmente seja uma boa idéia política a curto prazo, na semana que vem Obama estará jurando "preservar, proteger e defender a Constituição dos EUA". Não se trata de um juramento a ser honrado apenas quando conveniente.
E, para proteger e defender a Constituição, um presidente precisa fazer mais do que simplesmente obedecê-la; precisa responsabilizar aqueles que a tenham violado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto de Paul Krugmann, na Folha de São Paulo, de 17 de janeiro de 2009.
Marcadores: Barack Obama, Estados Unidos, George W. Bush, Paul Krugmann
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home