Grupo armado tenta impedir distribuição do jornal Extra no Rio de Janeiro
Grupo armado tenta impedir venda de jornal
Jornaleiros da Baixada Fluminense (RJ) sofrem ameaça; por medo de represálias, polícia não foi avisada
DA SUCURSAL DO RIO
Um grupo de homens armados comprou ontem de madrugada cerca de 30 mil exemplares do diário carioca "Extra" antes da chegada às bancas de jornais e revistas na Baixada Fluminense, no Estado do Rio.
A compra aconteceu na cidade de Belford Roxo, em um galpão que funciona como centro de distribuição de jornais para toda a Baixada. O grupo ainda percorreu as bancas de cidades próximas, como São João de Meriti, a fim de verificar se o jornal estava sendo vendido.
Os exemplares comprados pelos homens traziam a seguinte manchete: "Deputados em campanha mentem para garantir salário de R$ 13 mil".
De acordo com o relato publicado no site do "Extra", alguns jornaleiros que inicialmente se negaram a vender os exemplares cederam porque foram ameaçados. Por temer represálias, eles não procuraram a polícia. Os jornaleiros disseram que os homens lhes apontaram pistolas e revólveres, obrigando-os a vender.
O jornal informou ainda que, por volta das 2h de ontem, três homens estiveram na sede da publicação, na tentativa de comprar toda a edição. Eles chegaram ao endereço em um carro Vectra e um caminhão.
O chefe do grupo teria se identificado como coronel do Corpo de Bombeiros e dito que queria comprar os jornais por causa da reportagem que originou a manchete. A empresa se recusou a vendê-los.
Em Niterói (cidade a 15 km da capital fluminense) e na zona norte do Rio, em bairros que fazem divisa com São João de Meriti, também houve relatos de homens percorrendo as bancas para comprar todos os exemplares do "Extra".
Reportagem
A reportagem da qual trata a manchete acusa deputados estaduais que são candidatos a prefeito de forjarem explicações para terem abonadas as faltas em sessões da Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio). Assim, eles mantêm o salários integral, de cerca de R$ 13 mil, sem os descontos por falta determinados pela legislação. Na Alerj, 23 deputados são candidatos a prefeito.
Em nota, o presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), Alberto Motta Moraes, criticou a ação.
"O TRE repudia com veemência essa ação, que nos parece claramente um golpe de natureza eleitoral. A compra de grande quantidade de exemplares numa mesma região tem todos os indícios de uma tentativa de impedir que informações chegassem a uma parcela do eleitorado. Igualmente graves são as denúncias de que jornaleiros foram coagidos a vender todo o estoque, o que só fortalece a hipótese de se negar à população informações que lhe ajudasse a decidir o voto de forma consciente", diz a nota.
Texto da Folha de São Paulo, de 29 de setembro de 2008.
Marcadores: direito à informação, intimidação, liberdade de expressão, liberdade de imprensa
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