quinta-feira, setembro 27, 2007

Juremir Machado da Silva: Falsas Verdades e Verdades Falsas

FALSAS VERDADES E VERDADES FALSAS


Há um campeonato brasileiro da hipocrisia. Esquerda e direita brigam para saber quem mente mais. Por enquanto, está dando empate. Algo em torno de 105 a 105. Cada vez que alguém anuncia o fim do binômio esquerda/direita, algo que acontece diariamente por toda parte, não há dúvida: trata-se de um representante da direita bancando o imparcial, o neutro e o homem acima dos próprios interesses. O mesmo acontece quando se repete o clichê a respeito do fim das ideologias. A idéia de que não há mais esquerda e direita é simplesmente uma idéia de direita transformada em verdade pela força da repetição e do vazio. Não custa repetir. No combate entre Lulla e os seus opositores a dissimulação é a principal arma. É um jogo curioso e praticado com certo esmero. Todos os lances devem ser calculados com muita antecedência. É lugar-comum contra lugar-comum. Sempre.

A direita ataca o governo Lulla por causa da corrupção. O fundo é verdadeiro. Mas é o que menos interessa. Na verdade, não passa de um pretexto para fustigar Lulla por ele estar ocupando um lugar tradicionalmente reservado às elites. Onde já se viu um operário grosseirão virar presidente da República? Essa quebra da 'ordem natural das coisas' ainda não foi engolida. Nem será. Se a corrupção não existisse, seria preciso inventá-la para se ter bons argumentos contra o usurpador. Talvez por isso José Dirceu e os outros venham a ser recompensados pelos bons serviços prestados aos donos do capital. Sem eles, daria mais trabalho minar as bases do governo. Lulla adotou o modelo econômico de FHC e acrescentou uma boa dose de assistencialismo. É tudo. A direita poderia simplesmente adotá-lo. Não perderia um centavo nem corria qualquer risco. Por que fazer isso se a própria direita pode recuperar o poder e andar sozinha?

Por outro lado, sempre que atacado, o governo usa os mesmos expedientes: a chantagem emocional e o vitimismo. Tudo é conspiração da direita contra o pobre do operário no poder. Tudo é preconceito contra um homem que se fez sozinho e rompeu o círculo sagrado do poder controlado por elites selvagens. Tudo é ressentimento das classes médias e altas com suas manias de estudo formal, doutorados, uso correto da língua e outras manifestações burguesas e obsoletas. A direita ridiculariza a obsessão da esquerda por teorias conspirativas, mas não se cansa de conspirar. A esquerda cobra imparcialidade, mas nunca a pratica. Todos sabem que há uma parte de verdade em cada argumento utilizado conforme as conveniências. A totalidade, no entanto, é falsa. Há, de fato, preconceito contra o operário no poder, mas a corrupção nada tem de fictícia. Lulla está fazendo um bom governo. Nada, porém, que não represente uma linha de continuidade em relação à era FHC.

Além da mentira, da dissimulação e dos clichês, direita e esquerda têm em comum o golpismo. Os petistas não suportam críticas e sonham com uma imprensa dócil. A direita não tem paciência para esperar as eleições e estimula a mídia a ser raivosa. Nesse espetáculo sem intervalo, feito de capítulos sempre mais sensacionalistas, a esquerda utiliza com mais freqüência o método da intimidação. A direita prefere lançar mão da influência por baixo dos panos. O objetivo é um só: silenciar a crítica. É uma guerra econômica. Não se gasta tempo com originalidade.

Este texto foi publicado no Correio do Povo (para assinantes) de 23 de setembro de 2007.

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2 Comments:

Blogger Laff said...

Bom, não concordo que o governo atual seja uma continuidade do modelo econômico anterior. Acho que há um pouco de informações manipuladas que as pessoas não querem nem saber e a mídia não faz questão de mostrar, ao contrário, faz questão de esconder. Sempre a manchete é o que importa, o teor da notícia é irrelevante, quem vai ler? Só o economista ou o opositor que não vai contrariar os próprios interesses expondo o seu real conteúdo.

Não tinha os olhos abertos na época do FHC, política não se aprende na escola, é assunto irrelevante na grade curricular e na mídia.

Corrupção há por toda parte e hipocrisia também, mas acho razoável dizer que algo é bom (para incentivar quem poderia fazer algo), ao invés de dizer que é menos pior.

11:50 AM  
Blogger José Elesbán said...

Ok.

10:43 PM  

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