Defendendo George W.
Defendendo George W.
A UNANIMIDADE em torno da demonização de George W. Bush torna o exercício de defendê-lo irresistível, mesmo que equivocado.
Bush assumiu a Casa Branca no auge do poder americano e a entrega chamuscada depois dos dois "big bangs" deste século: os ataques de 11 de setembro de 2001 (nove meses depois de sua posse) e o colapso do sistema financeiro (quatro meses antes do fim do seu mandato).
Mas as duas explosões têm rastro em administrações passadas: o infame ataque da Al Qaeda começou a ser executado ainda no governo Clinton, e o sistema financeiro que agora jaz começou a formar-se na administração Reagan.
A deposição do Taleban no Afeganistão, aquele que baniu as mulheres das escolas e dos hospitais e executou opositores em praça pública, teve justo apoio global. Mesmo a invasão do Iraque para depor Saddam Hussein, que massacrava sem preconceito e aos milhares curdos, xiitas e quaisquer opositores, tinha lá seu apelo libertário.
Mas os erros grotescos dos pós-guerras anularam qualquer percepção de ganho.
Com aprovação de só 24% dos americanos, Bush diz, sem alternativa, que a história o julgará melhor. De fato, só agora, depois de milhares de mortos e tragédias inomináveis, pode-se ver a possibilidade (transformadora) de o Iraque tornar-se uma força democrática no coração do mundo árabe, um enorme feito. Bush ganha ainda elogios do insuspeito diário esquerdista londrino "The Guardian": "Os US$ 15 bilhões do plano presidencial americano de ajuda foram saudados como uma "revolução" que está transformando o sistema de saúde na África e o mais importante programa assistencial desde o final do colonialismo".
Para o Brasil, Bush trouxe ganhos com suas boas relações com o também desenvolto Lula. Seu governo (que só teve olhos para o Oriente Médio e a Ásia) deu espaço para Brasília exercer ainda mais sua liderança unificadora numa América do Sul que o petropopulismo chavista faz tudo para cindir.
Mas as razões para detestar Bush parecem mais fortes: seu unilateralismo agressivo em plena globalização, seu belicismo inconseqüente e sangrento, sua irresponsabilidade fiscal, sua lassidão com os mercados e as corporações, sua incitação ao conservadorismo religioso, seu antiintelectualismo... Cerca de 12 mil americanos assinaram uma petição em San Francisco para rebatizar o esgoto da cidade de "George W. Bush". O presidente tornou-se a Geni do planeta.
Alguém que é alvo de tanto ódio merece uma segunda avaliação.
Uma coisa alvissareira ao menos podemos atribuir a George W.: a eleição de Barack Obama. Sem a Guerra do Iraque e sua inépcia diante do colapso econômico, os Obamas não estariam fazendo as malas para a Casa Branca.
Texto de Sérgio Malbergier, na Folha de São Paulo, de 13 de novembro de 2008.
Marcadores: Estados Unidos, George W. Bush
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