segunda-feira, novembro 24, 2008

Eleições regionais na Venezuela: Dissidente ameaça Chávez em terra natal

Dissidente ameaça Chávez em terra natal

Pesquisas mostram irmão do presidente cinco pontos atrás de ex-aliado em Barinas, há dez anos governado por seu pai

Embora eleição de domingo seja regional, mandatário fez três comícios em 60 dias por Adán no Estado, onde chavismo é questão local

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em 1998, quando se elegeu presidente, a popularidade de Hugo Chávez também colocou seu pai, Hugo de los Reyes Chávez, no Palácio de Governo de Barinas, seu Estado natal. Dez anos depois, o presidente venezuelano tem suado a camisa para que Adán, seu irmão, supere o favoritismo do dissidente do governismo Julio Cesar Reyes.
Pesquisas de opinião recentes mostram uma vantagem de até cinco pontos percentuais para Reyes -um empate técnico. Prefeito da capital, também chamada Barinas, ele deixou o chavismo em meio à disputa para escolher o candidato a sucessor de Hugo pai, reeleito com facilidade em 2000 e 2004. Agora, é chamado de "Judas Cesar" por Chávez.
"A oposição nova e velha disse que Chávez perde em 23 de novembro [este domingo], que eles ganharão Barinas porque estão empenhados em me golpear no fígado", disse o presidente venezuelano no último domingo durante o terceiro comício eleitoral em dois meses na capital do Estado. "Se ganham (...), estariam golpeando o meu próprio ninho."
O discurso de Chávez em Barinas segue a estratégia nacional de transformar as eleições para governador e prefeito num plebiscito sobre o seu governo. Com isso, relega ao segundo plano a avaliação dos governos locais, quase todos nas mãos de chavistas -e, segundo pesquisas de opinião, com baixa popularidade devido a problemas de gestão em áreas como segurança pública.
Insultado várias vezes pelo presidente, Reyes não tem respondido às provocações, adotando a linha do "chavismo sem Chávez". Mas ele apóia para a Prefeitura da capital do Estado o deputado federal Wilmer Azuaje, um dissidente que tem acusado duramente a família Chávez de ter comprado várias fazendas no Estado por meio de testas-de-ferro.
Para o analista Alfredo Keller, do instituto de pesquisa Keller e Associados, essa estratégia está sendo bem-sucedida em quase todo o país, onde se tem verificado uma recuperação dos candidatos chavistas. Mas Barinas é uma das poucas exceções, diz ele, porque ali "Chávez" é um tema mais regional do que nacional.
Segundo Keller, a escolha de um irmão de Chávez como candidato "reforçou ainda mais a idéia de que Barinas é um feudo praticamente monárquico onde governa a família imperial. E isso tem ajudado a tese dos que pedem um voto de castigo".
Keller diz que muitos eleitores que inicialmente votariam no candidato apoiado pela oposição tradicional, Rafael Simón Jiménez, estão migrando para Reyes com objetivo de tirar a família Chávez do poder.
Seu instituto de pesquisa avalia que Barinas é um dos 9 dos 23 Estados em que a oposição tem a possibilidade de ganhar. Em outros seis, a derrota do chavismo é cogitada. Atualmente, governistas controlam 18 dos 24 governos regionais.
Além de Barinas, Chávez enfrenta o fenômeno dos candidatos dissidentes em outros dois Estados, Carabobo e Guárico, cujos atuais governadores também deixaram as filas governistas.

Texto da Folha de São Paulo, de 19 de novembro de 2008.


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